O Supremo Tribunal Federal (STF) tornou públicas mensagens obtidas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As conversas deixam claro que integrantes das Forças Armadas encorajaram um golpe de estado para manter o bolsonarismo no poder.
A decisão de liberar as mensagens foi assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, após divulgação de trechos das conversas em reportagem da revista Veja na manhã desta sexta-feira.
Nas trocas de mensagens é possível ver uma espécie de roteiro para colocar em prática o golpe de estado, além de cobranças feitas por militares a Cid para que convencesse Bolsonaro a romper a ordem institucional e evitar que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomasse posse.
Cid, que está preso desde mês passado, foi acionado por militares como o coronel Jean Lawand Junior, subchefe do Estado-Maior do Exército (órgão que planeja e coordena as atividades da Força). Saíram do celular de Lawand a maioria das mensagens reveladas.
"Pelo amor de Deus, Cidão, pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O Presidente vai ser preso. E pior, na Papuda, cara", chegou a dizer Lawand em mensagem de áudio a Cid em 1º de dezembro de 2022.
Em resposta, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro disse que "o PR [Presidente da República] não pode dar uma ordem... Se ele não confia no ACE [Alto Comando do Exército]".
Em outro diálogo revelado, Lawand, em 7 de dezembro, escreveu: "Boa tarde, irmão! Kd ["cadê"] a ordem? Cid, pelo amor de Deus! Convença o 01 a salvar esse país". "01" é uma referência a Bolsonaro. Cid respondeu: "Estamos na luta!".
Outras mensagens divulgadas vieram de outras fontes, como Gabriela Cid, esposa de Mauro Cid, e Adriana Villas Bôas, filha do general Eduardo Villâs Boas, ex-comandante do Exército.
Procurada pelo UOL, a defesa de Mauro Cid informou que só vai se manifestar nos autos do processo.
Em nota enviada à Globonews, o Exército se manifestou dizendo que "Opiniões e comentários pessoais não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro e tampouco o posicionamento oficial da Força" e que medidas administrativas estão sendo tomadas, sem detalhar quais ações são essas.
Edição: Rodrigo Durão Coelho