repúdio

Direção da UFABC se compromete a apurar agressões racistas contra indígenas em campus

Pró-Reitoria da universidade afirma ter acolhido as vítimas; ataques foram registrados no último dia 2 de junho

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Episódio aconteceu no campus Santo André da UFABC - Aline Veridiano/UFABC

A Universidade Federal do ABC (UFABC), na grande São Paulo, se comprometeu com a apuração e eventual responsabilização após denúncia de ataques racistas contra indígenas no campus da instituição na cidade de Santo André (SP).

A Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Políticas Afirmativas (Proap) da universidade se reuniu na última terça-feira (12) com representantes de coletivos e organizações que fazem a denúncia. O episódio foi registrado no último dia 2 de junho.

Na ocasião, o Nhandé Vae´té ABC, movimento indígena multiétnico da região do ABC paulista, realizou ato público após chamado da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) em resposta ao andamento das discussões sobre o marco temporal na Câmara dos Deputados. O ato aconteceu no campus Santo André da UFABC.

Enquanto os participantes do ato se deslocavam pelo campus, supostos estudantes que estavam em uma área de convivência abordaram indígenas e fizeram provocações, com sons estereotipados e levando a mão à boca repetidamente, em um gesto condenado pelo movimento indígena nacional.

Um dos estudantes que participavam das provocações ainda cantou um hino evangélico em resposta ao mboraí (música ritualística na língua guarani que envolve manifestação de espiritualidade e cultura indígena) que era entoado por participantes do ato.

"Aconteceram dois tipos de opressão ali: a primeira, 'eu estou dentro de da universidade e vocês estão excluídos'. A segunda, 'minha religião é superior à de vocês'", disse ao Brasil de Fato a socióloga Silvia Muiramomi, representante do Nhandé Vae´té ABC e integrante do Povo Guayaná-Muiramom.

Punição e ações afirmativas

Após a reunião da última terça, a Proap da UFABC informou que recebeu indígenas que foram alvo das ofensas para acolhimento institucional e orientou que o grupo buscasse a Ouvidoria da universidade para formalizar a denúncia e garantir o início das apurações.

"Reforçamos que ataques racistas configuram crimes inaceitáveis. A UFABC está à disposição para colaborar com apurações cabíveis. Acreditamos no respeito à diversidade e na construção de um ambiente universitário seguro e acolhedor para membros da comunidade interna e externa", comunicou a universidade em nota enviada ao Brasil de Fato.

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Para os integrantes dos grupos que fazem a denúncia, além de identificar e punir os agressores, a universidade deve trabalhar para criar um ambiente mais diverso e inclusivo.

"O entendimento é que a punição sem ação afirmativa para promover a desconstrução desse racismo só vai aprofundar essa relação de hostilidade. Nós queremos sim a ação punitiva, porque é necessário dizer que isso é crime. Mas a ação punitiva isolada não gera nenhuma perenidade sobre a desconstrução desse racismo", complementou Silvia Muramomi.

Edição: Nicolau Soares