Terra e igualdade

Marcha das Margaridas: campanha online busca doações para manifestação histórica em Brasília

Maior ação protagonizada por mulheres da América Latina pretende reunir 100 mil camponesas de todo o Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Última edição da Marcha das Margaridas foi realizada em 2019 - © Marcelo Camargo/Agência Brasil

A partir desta terça-feira (6), a Marcha das Margaridas inicia uma campanha de arrecadação pela internet com objetivo de captar doações para a edição deste ano do evento. O protesto reúne camponesas em Brasília pela garantia de direitos, trabalho e sobrevivência. 

Realizada no Brasil a cada quatro anos desde 2000, a Marcha é a maior ação protagonizada por mulheres da América Latina. Em 2023, ela volta às ruas pela sétima vez nos dias 15 e 16 de agosto. A organização espera reunir 100 mil trabalhadoras do campo na capital federal. 

A campanha pretende arrecadar 30 mil reais nos próximos dois meses, valor que será usado para custeio da manifestação, inclusive o deslocamento das camponesas com origem em todas as regiões do país. Doações podem ser feitas na página da Marcha das Margaridas na plataforma Benfeitoria.

Mazé Morais, coordenadora da Marcha, afirma que a singularidade da manifestação este ano está no encontro com diversos outros movimentos, que estão presentes na reconstrução do país após o desmonte das políticas públicas observados a partir de 2016.

"Levaremos às ruas a força da nossa luta coletiva para mostrar que somos fundamentais para definir um projeto de sociedade para o Brasil. Um projeto que recupere e reconstrua a democracia, que reverta os retrocessos dos últimos anos e que reoriente a economia para a sustentabilidade da vida, colocando o Estado e as políticas públicas a serviço da construção da justiça social, abrindo caminho para a sociedade do amor, do bem-viver e do envolvimento."

Segundo ela, as mulheres do campo "sentiram na pele" as consequências do aumento de problemas como a grilagem de terra, o garimpo ilegal, a destruição ambiental, o uso de agrotóxicos, a violência, o machismo, a fome e o desemprego. 

"Tudo isso nos colocou numa situação de total emergência: social, econômica, climática, sanitária, ecológica, civilizatória, sob um pano de fundo no qual as desigualdades de renda e de raça tornaram-se ainda mais marcadas. Porém, nunca deixaremos de lutar."

O lema da manifestação em 2023, Margaridas em Marcha pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver, nasceu da percepção de que, a partir da eleição de um governo democrático popular, seria necessário atuar para reverter os prejuízos causados pelo gestão conservadora entre 2019 e 2022. 

No documento de apresentação da ação marcada para agosto, a retomada de políticas públicas para a agricultura familiar, especialmente para as mulheres do campo, é colocada como compromisso inegociável.  

“As mulheres, notadamente, as mulheres negras, trabalhadoras, do campo, da floresta e das águas têm vivenciado os efeitos danosos da ausência dessas políticas no seu cotidiano. E isso significa que direitos lhes foram negados, assim como foram negadas existências e possibilidades do cuidado, proteção e segurança”, diz o texto. 

História

O nome da marcha é inspirado na mulher que se tornou símbolo da luta pela igualdade de direitos para as mulheres do campo, Margarida Maria Alves. Na década de 1980 ela se destacou como liderança no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba.

Combativa, a camponesa exigia direitos trabalhistas e denunciava as longas jornadas, a baixa remuneração e o trabalho infantil. Também foi responsável pela implementação de um programa de alfabetização para adultos no sindicato. 

Quem são as mulheres que participarão da Marcha das Margaridas

Ao longo de sua trajetória na luta por direitos de trabalhadoras e trabalhadores, a ativista foi alvo de diversas ameaças de latifundiários e feitores. Em 12 de agosto de 1983, ela foi executada com um tiro na cabeça na frente do marido e do filho.

As investigações apontaram que os autores do crime eram ligados ao Grupo Várzea, que reunia proprietários rurais, políticos e servidores públicos. Segundo o Ministério Público, o assassinato da sindicalista envolveu fazendeiros, usineiros, pistoleiros e um policial militar, mas ninguém foi condenado.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho