Completado um ano nesta segunda (5), o assassinato do indigenista Bruno Pereira é considerado um marco para a mobilização dos servidores da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
“O crime aconteceu em um momento que nós sofríamos um clima de assédio terrível. Os servidores passavam por uma situação que, além de serem perseguidos por processos administrativos e criminosos por fazer trabalhos, eram forçados a prevaricar, porque a gente tava numa gestão anti-indígena e anti-indigenista”, relata a indigenista da Funai e sindicalista Mônica Carneiro em entrevista ao programa Bem Viver, da Rádio Brasil de Fato na edição desta segunda-feira (5).
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Servidor da Funai, Bruno foi demitido em 2019 pelo então ministro Sergio Moro de uma diretoria da Funai em Brasília logo após coordenar uma operação contra o garimpo ilegal no Vale do Javari. Sem respaldo dos seus superiores, ele se licenciou do órgão indigenista para trabalhar diretamente para a Univaja (União dos Povos do Vale do Javari). Desde aquela época, ele recebia ameaças de morte.
Mônica Carneiro, indigenista da Funai, articulou greves e protestos a favor de Bruno / Divulgação/INA
Para a servidora, o que mudou neste um ano desde o assassinado foi o “exemplo e a força do Bruno [Pereira] conseguiu fazer com que os servidores da Funai recuperassem a motivação pra gente poder se reerguer e cobrar, principalmente, justiça por toda essa situação”.
Carneiro também enfatiza a diferença que representou o fim da gestão Bolsonaro e o afastamento do ex-presidente da Funai, Marcelo Xavier.
“Com a eleição do presidente Lula a gente consegue respirar, sair esse clima de assédio de pressão. A centralidade da questão indígena também é muito importante”, relata Carneiro ao valorizar a presença de Joênia Wapichana na presidência da Funai.
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Entre os servidores da Funai colegas de Bruno, fazer justiça por Bruno e Dom passa por responsabilizar o ex-presidente da Funai, Marcelo Xavier. Ele foi indiciado pela Polícia Federal (PF) por dolo eventual - quando alguém assume o risco de matar - no duplo homicídio, acusação negada por Xavier. Em nota, a PF disse que Xavier tomou conhecimento, em 2019, do “risco de vida dos servidores do órgão e não adotaram as providências necessárias para a proteção dos funcionários”.
Ainda sobre o que representou o fim do governo Bolsonaro, Carneiro pondera que “infelizmente ainda temos questões muito sérias pra resolver dentro da Funai, principalmente ainda em relação a segurança no trabalho”.
O caso
Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips desaparaceram no dia 5 de junho de 2022. Os dois faziam uma excursão na região próxima ao Vale do Javari para a produção de uma série de reportagens que resultariam no livro “Como Salvar a Amazônia”.
Foram 11 dias de buscas, coordenadas pela Polícia Federal (PF), mas que tiveram como protagonistas indígenas da região, que foram fundamentais para a encontrada dos corpos.
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Desde então, três pessoas estão detidas acusadas de serem as responsáveis pela execução do crime. Amarildo Oliveira (Pelado), pescador que hoje responde por ter atirado na dupla. Além dele, sentam no banco dos réus o irmão de Amarildo, Oseney de Oliveira (Dos Santos) e Jefferson da Silva Lima (Pelado da Dinha).
Uma quarta pessoa está detida, Ruben Dario da Silva Villar (Colômbia), apontado pela Polícia Federal como mandante das mortes
Para Mônica Carneiro, “quando a gente fala de justiça, a gente não tá falando só da prisão dos responsáveis e, sim, de uma investigação série de toda cadeia do crime organizado que acontece ali [Vale do Javari], até que essa rede seja desmantelada, isso envolve tráfico de drogas, garimpo entre outros crimes.
Card Bem Viver / Brasil de Fato
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Edição: Lucas Weber
