O chefe da Assessoria Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou nesta sexta-feira (2) que a atual guerra na Ucrânia é resultado de problemas de longa data e que as preocupações da Rússia precisam ser levadas em consideração.
"Não queremos uma terceira guerra mundial. E mesmo que não tenhamos isso, não queremos uma nova guerra fria", disse Amorim ao Financial Times. "Todas as preocupações dos países da região devem ser levadas em consideração, se você quer a paz. A única outra alternativa é a vitória militar total contra a Rússia. Você sabe o que vem depois? Eu não."
O Brasil condenou a invasão da Ucrânia em votação na Organização das Nações Unidas (ONU), mas após o chanceler russo, Serguei Lavrov, ser recebido em Brasília e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmar que russos e ucranianos decidiram pela guerra, a posição brasileira foi criticada pelos Estados Unidos.
A Casa Branca chegou a afirmar que o Brasil estaria "papagaiando a propaganda da Rússia e da China sem olhar para os fatos".
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Amorim destacou na entrevista para o Financial Times que a aproximação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar liderada pelos EUA, na direção das fronteiras russas é uma das preocupações de segurança de Moscou.
O ex-chanceler brasileiro ainda comparou a situação atual com o cenário após a Primeira Guerra Mundial. O Tratado de Versalhes, acordo para estabelecer a paz após o conflito, impôs condições muito adversas para a Alemanha e é um das explicações para o estouro da Segunda Guerra Mundial.
"Lembro-me da situação na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial: o objetivo era enfraquecer a Alemanha no [Tratado de] Versalhes e sabemos aonde isso levou", disse Amorim.
Edição: Nicolau Soares