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Na venda da TAP, o Brasil precisa voar alto

Deputado federal do PT defende compra da companhia portuguesa de aviação para alavancar turismo

Rio de Janeiro (RJ) |
Airbus da companhia aérea portuguesa TAP, que deve ser privatizada - Divulgação - TAP

O governo português tem planos consistentes para vender a companhia aérea TAP. Embora haja críticas à ideia de privatizar a estatal, o processo deve começar em julho e ter ritmo acelerado. Se o Brasil parece não ter nada a ver com isso, deveria ter. O negócio abre para o nosso país uma oportunidade robusta de ampliar a conexão com a Europa. Esta é uma ligação que precisa ir bem além dos laços do idioma e da cultura com Portugal para romper horizontes na economia mundial. 

Se deixarmos de lado nosso famoso e persistente complexo de viralatismo, não será difícil enxergar quanto o Brasil tem a ganhar se entrar para valer na disputa pela TAP. Há pelo menos dois irrefutáveis motivos econômicos para isso: o turismo e o apoio logístico para a indústria nacional. A estatal portuguesa é hoje a segunda maior companhia aérea internacional a operar em nosso país. Respondemos por 30% de seu faturamento, acima inclusive dos portugueses, que representam 20%.

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A TAP é um portão poderoso de entrada na Europa, capaz de multiplicar o fluxo de turistas e negócios para o Brasil, ou seja, o volume de empregos ao fim das contas. A definição de quem vai controlar a TAP pode ser um divisor de águas para muitos setores da economia na balança comercial entre a Europa e o Mercosul - portanto, para o nosso desenvolvimento.

Nenhum país desenvolve solidamente seu mercado de turismo sem uma empresa de aviação capaz de cumprir um papel estratégico. O turismo no Brasil, apesar de estar crescendo em 2023, segue muito aquém do que poderia ser. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que o setor foi responsável por 2,9% do PIB de 2022. Isso indica que temos um potencial enorme, mas entre as deficiências que nos seguram está a falta de uma companhia de aviação que nos dê capilaridade para rodar o mundo.

O primeiro-ministro português, António Costa, já assegurou que a nova TAP terá participação do Estado português no modelo de negócio da futura privatização. Uma das possibilidades para chegarmos lá é o desenho de um modelo tripartite, no qual entrariam os governos brasileiro e português e mais uma empresa brasileira interessada no projeto.

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Temos um enorme potencial não explorado, que passa por investimentos destemidos em infraestrutura. Temos a Embraer, um dos fabricantes de avião mais arrojados do mundo, com alta tecnologia quebrando barreiras em vários áreas da aviação: comercial, executiva, defesa e segurança. Temos uma das mais extensas pistas do continente, no Aeroporto Internacional do Galeão, hoje esvaziado apesar de seu potencial invejável. Transformar os aeroportos de Lisboa e do Rio de Janeiro em hubs internacionais unidos pela TAP é uma chance única para o país.

Tornar o Brasil sócio da TAP não é operação corriqueira. Mas não é de mesmice que o Brasil precisa para que sua economia passe de fase no turismo internacional. Especula-se que o valor da TAP gire em torno de 2 bilhões de euros, mas não dá para antecipar quanto o governo português vai pedir pela companhia. Mais difícil ainda é mensurar o tamanho do salto que o Brasil daria em turismo e logística de cargas ao definir os rumos de uma das maiores empresas mundiais de aviação, com operações consolidadas em todos os continentes. 

* Deputado federal (PT-RJ) e vice-presidente nacional do PT

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Nicolau Soares