Um vazamento de amônia em uma tubulação na fábrica da JBS do Rio de Janeiro, na cidade de Duque de Caxias, na baixada fluminense, deixou ao menos cinco trabalhadores feridos neste sábado (20). O acidente aconteceu nos setores de embutimento de linguiça e de encaixotamento e embalagem de salsicha.
De acordo com relatos de funcionários que não quiseram se identificar, por medo de represálias, um cheiro forte de amônia foi percebido no turno da madrugada, mas a produção não foi paralisada.
Às 7h, quando se iniciou um novo turno, cinco trabalhadores começaram a passar mal. Desses, três funcionários desmaiaram e foram encaminhados para o ambulatório da fábrica. Segundo os funcionários, a JBS só paralisou as atividades da fábrica por volta do meio dia.
“A supervisão do setor de embutimento de linguiça foi avisada, mas mesmo assim não quis parar a produção, então, resolvemos sair por conta própria, já que muitos começaram a passar mal, com ânsia de vômito, tosse e ardência nos olhos”, denunciou uma das funcionárias entrevistadas.
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A denúncia foi encaminhada por funcionários ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes, Laticínios, Sorvetes e Frios do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense (Sintrafrio), que de imediato cobrou a paralisação da produção. A entidade acompanha de perto os desdobramentos do acidente.
“O vazamento de amônia tem se tornado rotina em várias fábricas por todo Brasil. Fizemos essa discussão há poucas semanas, em um congresso realizado pela Regional Latino-Americana da União Internacional do Trabalhadores da Alimentação envolvendo vários países”, conta Geni Dalla Rosa, da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação da CUT (Contac-CUT).
Segundo a dirigente sindical, a Contac irá realizar uma campanha nacional para aprofundar o assunto. Dalla Rosa também chama a atenção para o fato de que a amônia deixa sequelas na saúde também a longo prazo, impactando pele, olhos, vias aéreas superiores e pulmões. Quando inalada, a amônia pode causar falta de ar, tosse, chiado no peito e, em alguns casos, pode levar à morte.
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“Muitas empresas, como a JBS, parecem não estar preocupadas, já que deixam de fazer inspeções básicas nas fábricas. Não é de hoje que esses acidentes e mortes vêm acontecendo. A matéria-prima, que é o boi, está sendo melhor cuidada do que os trabalhadores na linha de produção”, afirma.
A empresa utiliza a amônia nas tubulações de freezers industriais, por sua capacidade de resfriamento, ao contrário do CFC utilizado em geladeiras comuns, que não apresenta toxicidade.
Em 2019, uma parte do teto da mesma unidade da JBS, na Baixada Fluminense, desabou durante a madrugada, deixando cinco funcionários feridos. Duas funcionárias foram hospitalizadas e receberam alta, posteriormente.
Reincidência
Outra unidade da JBS, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, também já havia registrado um caso parecido, ainda em 2017. O acidente de vazamento de amônia nas operações da empresa atingiu 78 funcionários, segundo a própria JBS.
Outro lado
Em nota, a JBS afirmou que os relatos dos funcionários "não correspondem com a verdade". "A unidade foi prontamente evacuada. Os colaboradores que solicitaram foram encaminhados ao ambulatório e mediante diagnóstico foram liberados. O retorno aos postos de trabalho só ocorreu após a limpeza do local e vistoria técnica, acompanhada por representantes do sindicato dos trabalhadores", explicou a empresa.
Edição: Camila Salmazio