Comando do Planalto

Em depoimento a CPI no DF, general diz que acampamento golpista não foi considerado ilegal

Henrique Dutra diz que conversou com presidente Lula para adiar prisões do 8 de janeiro

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Depoimento foi realizado nesta quinta-feira (18) na CLDF - André Duarte/CLDF

Um dos suspeitos de proteger os golpistas que destruíram os prédios dos Três Poderes da República em 8 de janeiro, o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes foi ouvido nesta quinta-feira (18) na CPI dos Atos Antidemocráticos.

No depoimento, o general, que era responsável pelo Comando Militar do Planalto no dia da tentativa de golpe, disse que o acampamento em frente ao Quartel General do Exército não foi desmobilizado porque não foi considerado ilegal por nenhuma instituição.

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"Em nenhum momento o acampamento foi considerado ilegal, por nenhuma instituição. Em nenhum momento houve ordem para desmontagem do acampamento", afirmou o general Dutra, destacando que o Exército teria agido para "desmotivar" o acampamento desde novembro. Segundo ele, o acampamento chegou a contar com 100 mil pessoas no 15 de novembro, mas após o trabalho de desmobilização poucas centenas teriam permanecido no local até a véspera do 8 de janeiro com a chegada de centenas de ônibus em Brasília.

Durante o depoimento o general Dutra apresentou fotos e vídeos para sustentar sua versão de que o acampamento estava sendo esvaziado e justificou que no dia 29 de dezembro não houve a operação para a entrada do DF Legal em razão de um "acirramento de ânimos". "Naquela ocasião não estávamos preparados", justificou o militar, garantindo que o Exército vinha fazendo uma "estratégia indireta de desmobilização", que segundo ele foi frustrada em razão do dia 8 de janeiro.

Prisão dos manifestantes

O presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), questionou o general sobre o suposto impasse que teria ocorrido entre o comando do Exército e as forças civis de segurança após os atos de vandalismo na noite do dia 8. "Esse ato do senhor de não permitir as prisões naquele momento pode ter prejudicado o trabalho das polícias?", perguntou.

Ao responder o general negou desentendimento e justificou que as prisões não foram feitas em seguida aos atos porque existia o risco de as pessoas correrem para os quartéis ou as casas do Setor Militar Sul (SMU).


Vigilante questiona Dutra sobre prejuízos causados por adiamento das prisões / André Duarte/CLDF

"Em nenhum momento houve obstrução da Justiça. Em nenhum momento houve esse confrontamento com a polícia ou com o ministro Flávio Dino [Justiça]", assegurou. No entanto, ele confirmou que se encontrou com o então interventor da Segurança no DF, Ricardo Cappelli, após os atos e teria argumentado que a operação para prender todos os manifestantes era "muito complexa" e que "teria risco de morrer gente". Após essa conversa, Cappelli teria ligado para o ministro Flávio Dino e Dutra teria telefonado para o então ministro Marco Edson Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional).

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Ele disse que pediu ao general Dias para dizer ao presidente Lula que a operação teria alto grau de risco. Segundo o depoente, momentos depois o chefe do GSI liga e o coloca para falar com o presidente Lula. "Eu falei 'aqui é general Dutra, presidente' e ele disse: 'general são criminosos, têm que ser todos presos'. Eu disse 'serão presos, só que até agora nós só estamos lamentando danos ao patrimônio. Se nós entramos agora sem planejamento podemos terminar essa noite com sangue'", relatou.

O ex-comandante Militar do Planalto disse ainda que o presidente agiu com "inteligência emocional" e falou sobre as prisões acontecem no dia 9. "Ele na mesma hora falou: 'seria uma tragédia'. Ele falou: 'general, isola a praça e prende todo mundo amanhã'."

O general disse que depois disso houve uma reunião com os ministros Flávio Dino, Rui Costa (Casa Civil) e José Múcio (Defesa). Segundo o militar, a reunião foi extremamente cordial, sem desavenças e aí começou o planejamento da operação de prisão que aconteceria na manhã do próximo dia.

Aparelhamento do Exército

Em sua participação no depoimento o deputado Fábio Félix (PSOL) destacou o trabalho do ex-presidente Jair Bolsonaro para o "aparelhamento das Forças Armadas" e disse que a consequência foi a montagem e a continuidade dos acampamentos golpistas. "Como o senhor avalia o papel das Forças Armadas na política Brasileira? Isso é importante para que a gente possa compreender qual foi o papel das Forças Armadas nos acampamentos e nos atos de 2022", questionou Félix.

"Eu acredito no Exército Brasileiro como instituição de Estado, está totalmente voltado para o cumprimento da nossa Constituição", afirmou o general Dutra, acrescentando: "Foram coisas do [ex] presidente da República [Jair Bolsonaro] e da gente que trabalhava com ele. Nunca teve apoio do Exército".

O general Gustavo Henrique Dutra de Menezes é um dos investigados pelo Ministério Público Militar suspeito de negligência ou omissão nos atos de 8 de janeiro. Ele teve sua exoneração do Comando Militar do Planalto publicada no Diário Oficial da União do dia 11 de abril.

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino