Trabalhadoras e trabalhadores celebraram o 1º de Maio, em Porto Alegre, com ato cultural, na última segunda-feira (1º), na Praça da Usina do Gasômetro. Organizado pelas centrais sindicais do Rio Grande do Sul, o evento reuniu centenas de pessoas e colocou em evidência as principais bandeiras da classe trabalhadora: trabalho decente, renda, direitos, juros baixos, revoga Novo Ensino Médio e democracia.
As atrações culturais do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora ficaram a cargo das Femenejas, um grupo de mulheres que canta sertanejo, do rap de Dekilograma, do rock de Alquimia Voodoo, do samba do Areal do Futuro, da banda do Sindicato dos Músicos do RS, de Deborah Finocchiaro declamando Caio Fernando, de esquete teatral do Ói Nóis Aqui Traveiz, entre outros. Em meio a esse time de artistas, fizeram falas lideranças das centrais sindicais e movimentos populares.
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"Sobrevivemos e resistimos"
O presidente da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS), Amarildo Cenci, lembrou que o país passou por “seis anos de sofrimento, retrocesso e quatro anos de desgraceira para a classe trabalhadora, para os mais humildes e vulneráveis”, mas que felizmente “sobrevivemos e resistimos”.
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Por isso, segundo ele, a importância de celebrar a vida, a unidade e a luta. “A pauta que subiu a rampa só vai ser implementada se permanecermos na rua e ficarmos juntos, fortalecidos para que essas agendas de direitos e de reconstituição da democracia aconteçam”, avaliou.
Representante da Intersindical, Tamyres Figueira também lembrou dos anos de retrocessos, pontuando que “os trabalhadores tiveram um importante papel de derrotar a extrema direita e o bolsonarismo”. Para ela, a tarefa não acabou e são muitos os desafios, “pois os trabalhadores, as mulheres e os LGBTs precisam de dignidade”.
“Queremos que os trabalhadores tenham direitos, o governo tem que sinalizar isso. Precisamos que o governo revogue o Novo Ensino Médio, pois nossos jovens não podem aprender a serem trabalhadores que irão aceitar qualquer condição”, disse.
O presidente estadual da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB-RS), Guiomar Vidor, disse que o dia é especial. “A gente está aqui comemorando essa data do 1º de Maio como um marco histórico da luta dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo inteiro, pela redução da jornada e melhores condições de trabalho, mas ao mesmo tempo estamos aqui desenvolvendo uma atividade cultural porque nós trabalhadores e o povo brasileiro merecemos também ter cultura e ter muita luta”, disse.
Ele recordou que, durante “os seis anos que nós vivemos os maiores retrocessos da história do nosso país, as centrais sindicais unidas não desistiram da luta”. Para ele, passado o “período de maior regressão civilizacional da nossa história”, o país passa por novo momento, em que a luta será contra as reformas trabalhista e da previdência.
Trabalhadores de APP não têm feriado
A presidenta do Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativo do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS), Carina Trindade, parabenizou os trabalhadores e trabalhadoras e lembrou que sua categoria segue nas ruas trabalhando mesmo no feriado. “Eu vim para cá trabalhando, parei para vir fazer essa fala”, contou.
Ela explicou o drama da categoria. “Recebemos pouco, as empresas de aplicativo chegam a descontar 60% do valor de uma corrida e a gente recebe menos de 1 real por km rodado. Com o valor dos combustíveis toda hora subindo, a gente não tem como manter nosso carro, aluguel e também sustentar as nossas famílias.”
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Carina disse que os motoristas de aplicativo vão fazer uma nova paralisação, no dia 15 de maio, por tarifa justa, pois as plataformas não querem conversar. “Vamos de novo para a rua fazer manifestação e quem depender de aplicativo não chame nesse dia para apoiar os trabalhadores que estão lá em busca de uma remuneração melhor e de direitos básicos”, disse.
Também se manifestaram no palco representantes das centrais sindicais Força Sindical, CSB, Pública e UGT, além de integrantes de movimentos populares. A reportagem do Brasil de Fato RS conversou com algumas lideranças presentes no ato.
"De autônomo não temos nada"
Delegado sindical do Sindimoto-RS, Douglas Benites questionou o “apelido ideológico” de entregadores pelo qual a categoria é chamada. “Nós somos motofretistas e mototaxistas, motociclistas profissionais, como é regulamentado na lei federal”, afirmou. Para ele, o objetivo desse apelido “é romper a identificação do trabalhador que já estava organizado desde o início da década de 1990 e conquistou a regulamentação da atividade e diversas outras leis”.
“Hoje nós somos autônomos na visão do patrão, que não quer garantir direitos para nós, porque na relação de trabalho existe a configuração de vínculo empregatício. Com a legalidade da reforma trabalhista, eles aplicam essa máscara de vínculo que nos configura como autônomos, mas de autônomo não temos nada. Se tivéssemos autonomia teríamos dignidade, justiça e liberdade, e não temos nada disso”, explica.
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Dia de luta para seguir avançando
Integrante da Associação Mães e Pais pela Democracia, Eduardo Fonseca destacou a disposição do grupo em participar do ato democrático. “Estamos aqui na defesa do que o trabalhador merece, estamos aqui juntamente com movimentos sociais e partidos políticos para nos somar e dar apoio.”
Para o vice-presidente da Federação Gaúcha Uniões Associações de Moradores e Entidades Comunitárias (Fegamec), Sandro Luiz dos Santos, o dia não é de festa, mas da “luta que é cotidiana dos trabalhadores, por emprego, moradia, por mais saúde, educação, segurança, pela reforma urbana que inclua os trabalhadores, porque a vida do trabalhador se dá fora da fábrica também”.
A presidenta da Executiva Estadual do PT, Juçara Dutra, disse que o ato unificado “foi uma sacada do movimento, dos partidos políticos e centrais sindicais”, pois “é momento de unir forças para o combate à violência e aos efeitos dos quatro anos de políticas nefastas para o país, que esgarçaram o tecido social e que comprometeram as políticas públicas”.
“É um momento de retomada de uma esperança muito militante, temos que ter os fortes conjugados para nos recuperarmos dessa situação e voltar a uma normalidade democrática no país. Ao mesmo tempo, recuperar todas as perdas que tivemos e oferecer perspectiva para a população brasileira, porque a população se alimenta de sonhos e projetos de futuro”, complementou Juçara.
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Diretor do Sindipetro-RS, Dary Beck Filho disse que o dia é da classe trabalhadora e defendeu a importância das categorias organizadas estarem presentes na mobilização. “É um dia de reflexão, de lembrar, de festejar. Então é importante que estejamos aqui com os outros companheiros das várias categorias.”
A diretora do Sindibancários Ana Guimarães lembrou que a classe trabalhadora venceu a eleição presidencial, mas que ainda há um governo em disputa. “Várias forças se uniram para derrotar o fascismo e agora várias dessas forças têm visões diferentes do mundo e propostas diferentes. Nós que somos da categoria dos trabalhadores temos que lutar pelas nossas pautas”, defendeu. “E hoje, o ato prestigia a cultura justamente para mostrar a diferença entre um governo que se importa com cultura e outro governo que a criminaliza”, completou.
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Muito ainda a ser feito
A presidenta da Associação das Domésticas de Canoas, Dinorá da Silva Nunes, contou que o sindicato se fez presente no ato porque “nosso sindicato aqui em Porto Alegre não nos contempla, não reúne mais as trabalhadoras e o que a gente quer é unir as trabalhadoras”. Ela destacou a luta das trabalhadoras domésticas: “estamos indo a Brasília pelos 10 anos da nossa PEC. A gente percebe que tem muita coisa para ser feita, ainda tem companheiras em trabalho análogo a escravidão”, pontuou.
Para Fabiane Lara do Santos, promotora legal e técnica da Themis, a diversidade das pautas reunidas no ato “é reflexo dos últimos quatro anos de desgoverno”. “Eu acho que é a primeira vez que estamos tendo um 1º de Maio com a representatividade, com o nosso povo na rua feliz por ter vencido o fascismo”, disse.
A promotora legal enxerga esperança em um processo de reconstrução, após “quatro anos de praticamente 20 anos de retrocesso”, principalmente com relação às políticas públicas de proteção às mulheres. “Sabemos da dificuldade que vamos ter nessa reconstrução e o quanto é importante não perder o foco, de mantermos essa unidade.”
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko