Atriz, diretora e ativista de direitos humanos, Renata Carvalho está em cartaz com "Manifesto Transpofágico", uma pesquisa cênica sobre o corpo travesti em que encena, sozinha no palco, além de assinar a dramaturgia, com direção de Luiz Fernando Marques (Lubi), no Teatro Firjan Sesi Centro, no centro do Rio. No espetáculo, ela fala direto com a plateia, como um depoimento, mas também a envolve no jogo cênico.
Neste manifesto, Carvalho convida o público a olhar incansavelmente para o seu corpo travesti e lhe apresenta a historicidade dele. Para isso, pensou em cada detalhe para que a plateia se sinta acolhida em absoluto – do título da montagem à narrativa, passando pela iluminação e o volume do som.
"A peça inicialmente teria o nome de ‘Eu travesti’, mas quando a escrevi estava sendo muito atacada por representar Jesus em ‘O evangelho segundo Jesus, Rainha do céu’ e também pelo lançamento do Monart (Movimento Nacional de Artistas Trans) e do ‘Manifesto Representatividade Trans’, com a luta pela pausa na prática do transfake”, relembra Renata sobre seus projetos.
“Existia - e existe - uma dificuldade das pessoas em pronunciar a palavra travesti, e acreditei que a peça teria dificuldade para entrar em cartaz e ser noticiada. Então resolvi dar um nome mais teatral, mais digestivo, que soasse confortável aos ouvidos”, ironiza Carvalho, que também fundou o Coletivo T - primeiro coletivo artístico formado integralmente por artistas trans.
A ideia da também diretora e ativista dos direitos humanos e LGBTQIAPN+, com foco nas pessoas trans e travestis, é despertar a consciência para o grau de transfobia em 2023.
"A narrativa é construída para que nada abale a fragilidade cisgênera e desvie do tema. A música não é alta, as luzes na plateia acendem gradualmente. Estou microfonada, não grito para não colocarem esse corpo como violento. Falo de forma calma e pausadamente, entre 6 e 8 hertz - volume agradável aos ouvidos. As palavras são bem escolhidas, não podem ser impositivas ou acusatórias. Estudei comunicação não-violenta para conseguir me comunicar melhor”, adianta Renata.
O espetáculo é dividido em duas partes: na primeira, um corpo apenas de calcinha no palco narrando, dentre outras coisas, o devir travesti daquele corpo denunciando a construção social, criminal, patológica, sexualizada, religiosa e moral que permeia o imagético do senso comum sobre o que é ser uma travesti / ter um corpo travesti.
Na segunda parte, a proposta provoca uma conversa ética e sincera com o público. “O que o meu corpo travesti ainda carrega do que foi mostrado no palco? O que todes nós que estamos nesse teatro/espaço ainda carregamos daquela época? Por que ainda carregamos? É aberto ao público fazer qualquer pergunta, comentário, depoimento. Se quisermos juntes, este será o lugar onde podemos errar, e com isso, aprender”, afirma.
Renata nomeia seu estudo: "Transpologia", que denuncia a construção social, midiática, patológica, religiosa, criminal e hipersexualizante que permeia o imaginário do senso comum sobre pessoas trans/travestis.
Serviço
"Manifesto transpofágico" fica em cartaz até 30 de maio, sempre às segundas e terças-feiras, às 19h (Não haverá espetáculo nos dias 1º e 2 de maio).
Ingressos: R$ 30 (inteira) / R$ 15 (meia-entrada)
Os ingressos podem ser comprados antecipadamente clicando aqui.
O Teatro Firjan Sesi fica na Avenida Graça Aranha, nº 1 – Centro
Informações: (21) 2563-4163
Classificação Indicativa: 16 anos
Edição: Eduardo Miranda