Criar "uma versão alternativa da realidade": este é o objetivo do bolsonarismo com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos democráticos no Congresso. Quem afirma é a cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que participou, nesta quinta-feira (27), do programa Central do Brasil, de produção do Brasil de Fato.
Na entrevista, Goulart destacou que os parlamentares que compõem a base de apoio do agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vão tentar criar cenas que, apresentadas de maneira recortada e distorcida, farão com que seus apoiadores embarquem nessa versão alternativa.
Mesmo o governo tendo sido vítima de uma tentativa de golpe no último dia 8 de janeiro, parte da oposição embarcou, desde o início, na ideia de realização da CPMI. E, nesse contexto, é bastante provável que o tema gere desconforto para o entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Toda CPI causa desgastes para o governo. Mesmo essa, que é sobre um acontecimento feito contra o governo. Porém, ela cria um espaço para pautas negativas na mídia, e também desvia a atenção daquilo que precisava estar sendo objeto da atenção, que são as negociações em termos de aprovação de políticas públicas", apontou Mayra Goulart.
CPI do MST em pauta
O Central do Brasil desta quinta abordou também a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos populares na Câmara dos Deputados. A CPI foi formalizada na última quarta-feira (26) pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL).
Em entrevista ao programa, a integrante da direção nacional do MST Ceres Hadich afirma que o movimento já passou por outras ameaças e pressões por parte de parlamentares e outros agentes. Mais uma vez, há uma tentativa de criminalizar a atuação.
"É uma CPI sem fato, sem objeto determinado, sem fato concreto para que possa ser instituída e efetivamente para que aconteça. Entendemos que isso é parte de uma disputa de narrativas, dessa disputa por dentro do aparato do Estado brasileiro", destacou.
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Lideranças do MST entraram em contato com Lira e outras lideranças parlamentares antes da instalação dos trabalhos da Comissão. "A gente colocou nosso entendimento para o Arthur Lira. A gente não entende a materialidade de instalar uma CPI neste momento, ela vem atrapalhar, não só o MST, mas o governo como um todo", destacou Hadich.
"O Movimento Sem Terra já caminha para os 40 anos, e desde os anos 1980, a gente traz, na bandeira da luta pela terra, a bandeira da função social da terra, do direito democrático ao acesso a terra e trabalho", complementou.
A edição desta quinta do Central marca ainda o Dia Nacional da Empregada Doméstica, celebrado neste 27 de abril. Após dez anos da assinatura da PEC que garantiu direitos trabalhistas à categoria, houve avanços, mas ainda há uma enormidade de desafios.
Assista o Central do Brasil desta quinta-feira na íntegra:
O programa Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. Ele é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 12h30, pela Rede TVT e por emissoras parceiras espalhadas pelo país.
Edição: Nicolau Soares