O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, concederam coletiva de imprensa nesta quarta-feira (26) em Madri e participaram de cerimônia de assinatura de acordos nas áreas de educação, trabalho e ciência e tecnologia. Os líderes falaram sobre a guerra na Ucrânia e as negociações por um acordo entre Mercosul e União Europeia.
A íntegra dos acordos pode ser conferida neste link. O documento prevê um "intercâmbio sobre o processo que se realizou, no final de 2021, para a revisão da reforma trabalhista na Espanha" e também a "criação do grupo de trabalho técnico sobre a regulamentação do trabalho e da atividade econômica em plataformas digitais".
Já durante a coletiva de imprensa, Lula e Sánchez deram ênfase a volta do Brasil ao cenário internacional e também apresentaram visões diferentes sobre a guerra na Ucrânia e coincidentes em relação ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
O presidente brasileiro disse que o Brasil condena a invasão territorial da Ucrânia, mas ressaltou que a Organização das Nações Unidas (ONU) deveria fazer mais pela paz, e que seu Conselho de Segurança precisa ser reformulado para incluir mais países.
"Nós vivemos num mundo em que o Conselho de Segurança da ONU, os membros permanentes, todos eles são os maiores produtores de armas do mundo, são os maiores vendedores de armas do mundo e são os maiores participantes de guerra do mundo", afirmou Lula. O presidente brasileiro citou a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, da Líbia pela França e Inglaterra, via OTAN, e da Ucrânia pela Rússia como exemplos de guerras de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
"Por que Brasil, Espanha, Japão, Alemanha, Índia, Nigéria, Egito, África do Sul não estão [como membros permanentes]? Quem determina atualmente são os vencedores da 2ª Guerra, mas o mundo mudou. Precisamos construir um novo mecanismo internacional que faça a coisa diferente. Acho que tá na hora da gente começar a mudar as coisas e está na hora da gente criar um tal de G20 da Paz, que deveria ser a ONU".
O premiê da Espanha - país que envia armas para a Ucrânia -, reforçou a importância de um "ator global" como o Brasil se preocupar com a construção da paz e ainda ressaltou que a guerra tem um "agressor", os russos, e um país invadido, a Ucrânia.
Nós queremos construir com a Espanha uma parceria ainda mais forte do que a que já existe. Vamos trabalhar juntos para melhorar nossos países e ajudar a melhorar o mundo 🇧🇷🇪🇸
— Lula (@LulaOficial) April 26, 2023
📸: @ricardostuckert pic.twitter.com/XdJd6n0KkG
Acordo UE-Mercosul e declaração conjunta
Os dois líderes defenderam a conclusão das negociações por um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Sánchez declarou que neste ano a Espanha ocupará a presidência rotativa da UE e o Brasil, do Mercosul.
"Portanto, acho que vamos ter uma conjuntura propícia para verdadeiramente culminar este processo e atingir este acordo. Vamos trabalhar para tentar obter este acordo neste ano”, afirmou o premiê espanhol.
A criação de uma área de livre comércio entre os dois blocos comerciais é negociada há décadas e atualmente discordâncias sobre as cláusulas ambientas do acordo são um dos pontos de impasse.
"O Brasil também tem seus interesses. A proposta feita no governo anterior é inaceitável por parte do Brasil porque impõe punição e não acho que podemos aceitar", disse o petista.
Na declaração conjunta de Brasil e Espanha, os governos ainda se comprometeram a "impulsionar a assinatura do acordo entre as duas regiões que permita o aumento do comércio e dos investimentos em ambas as direções e a promoção da prosperidade compartilhada".
O documento também ressalta posições em comum como a preocupação com a emergência climática, a defesa da transição energética e afirma que o governo espanhol "saudou a candidatura do Brasil para a realização da Conferência do Clima (COP 30) na cidade de Belém do Pará em 2025".
Edição: Patrícia de Matos