Visita de Estado

Brasil e Espanha assinam três acordos e Lula defende em Madri o 'G20 da Paz'

Presidente brasileiro encontrou o premiê espanhol Pedro Sánchez durante o encerramento de visita à Europa

São Paulo (SP) |

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Lula e Pedro Sánchez, no Palácio da Moncloa, em Madrid - Ricardo Stuckert/PR

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, concederam coletiva de imprensa nesta quarta-feira (26) em Madri e participaram de cerimônia de assinatura de acordos nas áreas de educação, trabalho e ciência e tecnologia. Os líderes falaram sobre a guerra na Ucrânia e as negociações por um acordo entre Mercosul e União Europeia.

A íntegra dos acordos pode ser conferida neste link. O documento prevê um "intercâmbio sobre o processo que se realizou, no final de 2021, para a revisão da reforma trabalhista na Espanha" e também a "criação do grupo de trabalho técnico sobre a regulamentação do trabalho e da atividade econômica em plataformas digitais".

Já durante a coletiva de imprensa, Lula e Sánchez deram ênfase a volta do Brasil ao cenário internacional e também apresentaram visões diferentes sobre a guerra na Ucrânia e coincidentes em relação ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

O presidente brasileiro disse que o Brasil condena a invasão territorial da Ucrânia, mas ressaltou que a Organização das Nações Unidas (ONU) deveria fazer mais pela paz, e que seu Conselho de Segurança precisa ser reformulado para incluir mais países.

"Nós vivemos num mundo em que o Conselho de Segurança da ONU, os membros permanentes, todos eles são os maiores produtores de armas do mundo, são os maiores vendedores de armas do mundo e são os maiores participantes de guerra do mundo", afirmou Lula. O presidente brasileiro citou a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, da Líbia pela França e Inglaterra, via OTAN, e da Ucrânia pela Rússia como exemplos de guerras de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

"Por que Brasil, Espanha, Japão, Alemanha, Índia, Nigéria, Egito, África do Sul não estão [como membros permanentes]? Quem determina atualmente são os vencedores da 2ª Guerra, mas o mundo mudou. Precisamos construir um novo mecanismo internacional que faça a coisa diferente. Acho que tá na hora da gente começar a mudar as coisas e está na hora da gente criar um tal de G20 da Paz, que deveria ser a ONU".

O premiê da Espanha - país que envia armas para a Ucrânia -, reforçou a importância de um "ator global" como o Brasil se preocupar com a construção da paz e ainda ressaltou que a guerra tem um "agressor", os russos, e um país invadido, a Ucrânia.

 

Acordo UE-Mercosul e declaração conjunta

Os dois líderes defenderam a conclusão das negociações por um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Sánchez declarou que neste ano a Espanha ocupará a presidência rotativa da UE e o Brasil, do Mercosul.

"Portanto, acho que vamos ter uma conjuntura propícia para verdadeiramente culminar este processo e atingir este acordo. Vamos trabalhar para tentar obter este acordo neste ano”, afirmou o premiê espanhol.

A criação de uma área de livre comércio entre os dois blocos comerciais é negociada há décadas e atualmente discordâncias sobre as cláusulas ambientas do acordo são um dos pontos de impasse.

"O Brasil também tem seus interesses. A proposta feita no governo anterior é inaceitável por parte do Brasil porque impõe punição e não acho que podemos aceitar", disse o petista.

Na declaração conjunta de Brasil e Espanha, os governos ainda se comprometeram a "impulsionar a assinatura do acordo entre as duas regiões que permita o aumento do comércio e dos investimentos em ambas as direções e a promoção da prosperidade compartilhada".

O documento também ressalta posições em comum como a preocupação com a emergência climática, a defesa da transição energética e afirma que o governo espanhol "saudou a candidatura do Brasil para a realização da Conferência do Clima (COP 30) na cidade de Belém do Pará em 2025".

Edição: Patrícia de Matos