Lideranças de movimentos populares, parlamentares, ativistas, artistas e educadores se reúnem nesta sexta-feira (14) no acampamento Marielle Vive, em Valinhos (SP), para celebrar cinco anos da ocupação da área.
Maior acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado de São Paulo, a área que já foi improdutiva virou referência em produção de alimentos saudáveis, alfabetização, cultura e convivência para as famílias e o entorno.
Tassi Barreto, da coordenação do MST e do acampamento Marielle Vive, explica que a data é também um momento de luta. Desde o fim da validade de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proibia remoções forçadas, acampamentos rurais e urbanos em todo o país sofrem risco de despejo.
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"Já fomos vítimas de uma série de situações muito difíceis. Houve a dificuldade de as crianças terem acesso à escola, ao transporte escolar e à saúde pública. Ficamos mais de um ano no acampamento sem acesso à água potável, que é o mínimo necessário para qualquer pessoa sobreviver", relata Tassi Barreto.
Durante uma manifestação pelo abastecimento de água em 2019, o pedreiro Luis Ferreira, morador do Marielle Vive, foi assassinado. Aos 72 anos, ele foi atropelado por uma caminhonete que invadiu o protesto. Em 2022, o acampamento foi alvo de três ataques a tiros.
"O assassino do seu Luis estava empoderado pelo crescimento do neofascismo na sociedade brasileira. Além da luta por justiça pela Marielle Franco, pelo Anderson e pelos mártires do Massacre de Eldorado do Carajás, também lutamos por justiça por Luis", diz a coordenadora do acampamento.
Propriedade não cumpria função social
A propriedade é reivindicada pela Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários. A área estava ociosa antes da ocupação pelo MST. O município de Valinhos (SP) fica perto de Campinas, a maior cidade do interior paulista, e é conhecido pelos condomínios de luxo.
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A fazenda estava ociosa e seria destinada à construção de um condomínio horizontal luxuoso. Segundo o MST, o projeto envolvia problemas ambientais e também de segregação espacial, com a substituição das áreas agrícolas pela privatização que beneficiaria a parcela mais rica da região.
"A luta se iniciou com o enfrentamento direto à especulação imobiliária e improdutividade que reinava na fazenda, que não cumpria sua função social. Através da ocupação, a área passou a cumpri-la. Tornou-se um espaço de moradia, de vivência das crianças, da agroecologia e da produção de alimentos para consumo interno e destinados à venda e à doação", narra Tassi Barreto.
O simbólico Marielle Vive
O acampamento Marielle Vive é carregado de elementos simbólicos. A Fazenda Eldorado começou a se transformar em acampamento sem-terra no dia 14 de abril de 2018, exatamente um mês após o assassinato da vereadora carioca.
Há cinco anos, a ocupação da fazenda improdutiva foi parte do período conhecido como Abril Vermelho, quando o MST rememora, anualmente, o Massacre de Eldorado do Carajás por meio da intensificação das lutas no campo.
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A área antes esvaziada pela especulação imobiliária agora é lar de famílias que vieram das periferias de cidades ricas, mas com intensa segregação social: Valinhos, Vinhedo, Limeira, Campinas, Hortolândia, Sumaré e Americana.
Assim como a vereadora carioca, centenas de acampadas do Marielle Vive são negras, mães e moradoras de favelas. São, como se autodenominam, as "Marielles" do acampamento.
"A atividade dos cinco anos é para a gente festejar, celebrar a luta e lutar por justiça aos nossos mortos. Mas também denunciar o risco de despejo e fortalecer a nossa pauta, para que a gente conquiste o assentamento agroecológico Marielle Vive", projeta Tassi Barreto.
Edição: Thalita Pires