A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro realizou, na última terça-feira (11), uma reunião para discutir a questão do enfrentamento ao bullying e ao cyberbullying nas escolas, como forma de lembrar e homenagear as vítimas da chacina na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, ocorrida há 12 anos.
Os casos de ataques em escolas cresceram entre 2022 e 2023. Em todo o Brasil foram registrados cinco episódios desse tipo com mortes em escolas e 39 pessoas assassinadas, de acordo com dados do Monitor do Debate Político da Universidade de São Paulo (USP).
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O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 31 anos desde a sua criação e busca assegurar prioridade nos direitos fundamentais de crianças e adolescentes. Mas no entender do desembargador do Tribunal da Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), Siro Darlan, essa lei de fato não saiu do papel.
“Se há 31 anos tivéssemos nos unido para garantir uma escola de qualidade para todas as crianças brasileiras para ter direito à educação integral, isso implica na valorização do trabalho dos professores, essa situação poderia não acontecer. A escola é um lugar da construção da paz e não podemos continuar cultivando terror que vivemos com estímulos ao armamento, isso tudo reflete na sociedade”, comentou Darlan.
Professora há 40 anos, Miria Thereza Cruz afirma que o Brasil está vivendo um surto psicótico de violência nas escolas e que os cortes na educação influenciam. “Não podemos continuar produzindo autistas sociais e permitindo que cyberbullying e bullying nas escolas se estabeleça. O arcabouço financeiro do nosso ensino foi retirado de dentro da escola, não temos porteiros, cultura, corredores vigiados, temos merendeiras terceirizadas para cozinhar para um batalhão de alunos. Todo um projeto de descaracterização do ensino nacional e isso precisa acabar”, comentou.
Sobrevivente da chacina de Realengo, Thayane Tavares cobrou dos governantes que tomem iniciativas contra esses episódios que vêm acontecendo com frequência e pediu acompanhamento psicológico nas escolas.
“Se os governantes tivessem tomado medidas há 12 anos, muitas coisas seriam evitadas. Tem acompanhamento psicológico em todas as escolas? Não tem. Temos que lidar com a realidade por mais que doa. Nenhuma criança merece passar por esse trauma. O tempo não cura. Se estourar uma bexiga eu penso que é tiro. Até hoje eu acho que estou sendo perseguida”, conta Thayane.
Presidente da Associação Anjos de Realengo e mãe da vítima Luiza Paula, Adriana Silveira comenta que a associação foi fundada para que as mortes das 12 crianças vítimas dessa chacina não tenham sido em vão. “Não houve trabalho com prevenção dentro das escolas. Temos muito o que fazer e na época abriu um leque de questionamentos sobre o que poderia ser feito, e estamos vendo a resposta agora, nada foi feito”, afirmou.
O deputado Júlio Rocha reafirmou seu compromisso em fiscalizar o funcionamento das leis que possam garantir a segurança dentro das salas de aula. “A Alerj vem aprovando uma série de medidas para a elaboração de políticas públicas voltadas para a segurança nas escolas, uma delas é o Projeto de Lei 489/19, que cria um índice de Segurança das Escolas (ISE) e o projeto 583/2023, que institui a Semana Verde e Branca de enfrentamento ao bullying e cyberbullying nas escolas da rede pública do estado”, pontuou o parlamentar.
Participaram também da reunião Andreia Tavares, mãe da aluna sobrevivente Thayane Tavares, a diretora da Escola Tasso da Silveira, Sônia Regina Pereira; e Helena Santos, também sobrevivente da chacina.
*Com informações do portal da Alerj
Edição: Mariana Pitasse