Após críticas de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e outros políticos bolsonaristas, a TV Cultura retirou de suas redes sociais um documentário crítico à extrema direita e aos atos golpistas do dia 8 de janeiro. A informação é do jornal O Globo.
Produzido pela própria emissora pública, a produção O Autoritarismo está no ar - 3 anos depois foi ao ar no dia 23 de março. Trata-se de uma versão atualizada de um documentário de 2020 sobre o crescimento da extrema direita e os riscos para a democracia. A nova versão inclui cenas da depredação golpista aos prédios dos Três Poderes.
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Após a transmissão, Eduardo Bolsonaro queixou-se em sua conta no Twitter. "A @tvcultura parece estar sob influência de alguém c/ calça apertada ainda. Discurso ideológico e uso da máquina estatal em favor da política", publicou.
Segundo a reportagem, ele não parou por aí, e levou as cobranças diretamente ao governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
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"Nada a ver"
A remoção ocorreu após uma reunião do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, controladora da Cultura. Presente na reunião, a secretária da Cultura de São Paulo, Marília Marton, negou ter tratado do assunto, mas atacou o documentário.
"A minha pergunta, enquanto secretária da Cultura e membro do Conselho, é: aquele documentário tem interesse público? Eu assisti ao documentário e particularmente achei que, se ele fosse muito bom, estaria no Netflix. (Achei) mal escrito, mal roteirizado, mal filmado", afirmou a secretária ao Globo.
Ela também questionou a associação dos atos golpistas de 8 de janeiro e a extrema direita. "A gente não pode dizer que aquilo era só pessoas da direita. Será que ali não tinham pessoas que nem sabiam o que estava acontecendo? É uma ação de pessoas loucas, que não tem a ver com uma ideologia de direita.", declarou a secretária, mesmo com a existência de provas que ligam o planejamento e execução dos ataques à extrema direita.
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Pressões
Ex-secretário de Cultura de Bolsonaro – e candidato ao emprego de Marton no governo estadual –, o deputado federal Mário Frias (PL-RJ) também se manifestou. "A secretária de cultura de SP parece estar empenhada em deixar que a extrema esquerda continue utilizando a máquina pública cultural paulista para manter sua agenda. É um absurdo que a TV Cultura, sustentada com verba do governo paulista, seja palco para todo tipo de narrativa alucinada da esquerda. Lamentável!"
Vinculada ao governo de São Paulo, a TV Cultura é gerida pela Fundação Padre Anchieta. Em seu site, a fundação afirma que seu rumo é "desvinculado das vontades políticas dos governos estaduais.
"Instituída e mantida pelo poder público, a Fundação nascia livre. Em seu estatuto, estava criada uma entidade de direito privado, com seu rumo desvinculado das vontades políticas dos governos estaduais."
Em outro trecho, a FPA reafirma sua desvinculação da política partidária. "Uma instituição que jamais se curvou aos episódios políticos. Uma instituição que continuou a exercer seu papel, sob inúmeros desafios e censuras, de formar culturalmente milhões de brasileiros. Acreditando em seu pleno direito à independência e no exercício da democracia."
Edição: Nicolau Soares