Novo romance

Para escritor Bernardo Kucinski, não responsabilizar ditadura abriu espaço para o bolsonarismo

Em nova obra de ficção, o escritor Bernardo Kucinski aborda os desaparecimentos do regime militar

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Em nova obra Bernardo Kucinski fala sobre os desaparecidos políticos da ditadura civil-militar. - Marcos Santos/USP Imagens

Os desaparecimentos forçados de pessoas indesejadas pelo poder durante a ditadura civil-militar. É esse o tema que o escritor, jornalista e cientista político Bernardo Kucinski traz em seu novo livro: O Congresso dos Desaparecidos. O interesse do autor em compreender melhor tal prática que vem desde os tempos do Brasil colônia e que se intensificou durante a ditadura, além da importância de se posicionar diante das disputas de narrativas sobre a ditadura foram temas tratados na edição do programa Central do Brasil desta quarta-feira (5). 

De acordo com Kucinski, a ideia para o enredo do livro partiu da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) ocorrida em Brasília, durante a gestão da ex-presidenta Dilma Rousseff. “O enredo é imaginário, quase como uma fantasia política, na qual dois espíritos dos desaparecidos se encontram por acaso e decidem realizar um encontro com todos os desaparecidos do Brasil e aí vem a dificuldade de localizar os desaparecidos, o problema da memória e finalmente o encontro é realizado e nesse encontro eles reclamam muito do descaso da sociedade com os desaparecidos.” 

No Brasil e em outros países da América Latina, como a Argentina, a memória da ditadura passa por um processo de disputa, com grupos de extrema direita tentando legitimar a violência do Estado e desacreditar os relatos das vítimas. “Num anexo no livro faço uma discussão semântica sobre o verbo desaparecer e da expressão desaparecidos políticos na América Latina.”

Diante disso, o autor pontua que livros como o O Congresso dos Desaparecidos têm importância fundamental para vencer a guerra de narrativas e também para relembrar falhas na forma como as instituições públicas lidam com os crimes cometidos na época. 

“Todas as tentativas de processar esses criminosos fracassaram porque a Justiça se agarrou aos termos estritos da Lei de Anistia e depois a Comissão da Verdade também teve as mãos amarradas porque, embora ela tivesse feito um trabalho importante, não podia punir e nem mesmo para intimar os depoentes.”

A partir disso, para Bernardo que teve irmã e cunhado desaparecidos durante o período ditatorial, essa sucessão de falhas no tratamento da ditadura, com a negociação da Lei de Anistia, que acabou dando imunidade aos torturadores e a outros agentes da repressão política é um dos elementos que compõem o cenário político brasileiro atual. “Eu acredito que foi um pouco por causa disso que se abriu espaço para o surgimento dessa fase nefasta que foi o bolsonarismo.”

Para conferir a entrevista completa, basta assistir ao programa Central do Brasil desta quarta-feira (05).

Assista agora ao programa completo 

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