O imóvel onde o líder seringueiro mais importante do país viveu e foi assassinado, em Xapuri (AC), está ameaçado pelas fortes chuvas que atingem a região Norte. A Casa de Chico Mendes, patrimônio histórico tombado, corre o risco de ser danificada por alagamento pela segunda vez em oito anos.
Imagens enviadas ao Brasil de Fato por Ângela Mendes, ativista socioambiental e filha de Chico, mostram que a enxurrada já invadiu cômodos de alvenaria nos fundos do terreno. O nível da água está a poucos centímetros do assoalho da casa principal, que é de madeira.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) voltou a emitir um aviso de chuvas intensas previstas para esta quarta-feira (29) no Acre. Em poucos dias choveu mais do que o esperado para todo o mês de março no estado. Segundo o governo estadual, 40 mil pessoas foram atingidas e cerca de 5 mil estão desabrigadas ou desalojadas.
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"Espero que a chuva prevista para cair não passe do nível da água que já está. Depois de uma longa batalha pela reabertura da casa, ela finalmente foi reformada. E agora pode estar saindo da reforma direto para o alagamento", lamentou Ângela Mendes.
Com móveis e objetos originais de Chico Mendes, a casa virou símbolo da luta socioambiental no Brasil. Uma das paredes ainda guarda marcas de sangue do seringueiro, morto em 22 de dezembro de 1988.
Imóvel já teve que ser fechado por causa de enchente
Construída em 1960, a Casa de Chico Mendes funciona como museu e é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O local foi fechado para visitação em 2018 porque precisava de obras de revitalização. No final do ano passado, o Iphan licitou a reforma, que está em fase de conclusão.
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A residência já passou por uma enchente em 2015, quando ficou parcialmente submersa, e teve que ser fechada. As visitas foram retomadas em junho de 2017, mas interrompidas novamente em 2018.
O Brasil de Fato pediu posicionamento ao Iphan. Após a publicação da reportagem, o órgão enviou a seguinte nota:
"Desde o momento em que teve ciência do risco da enchente na Casa de Chico Mendes, o Iphan começou a monitorar a situação do bem tombado. Como a edificação estava em reforma, o acervo, que também é tombado, já havia sido retirado em janeiro. No domingo (26/3), o Iphan entrou em contato com a família do Chico Mendes, a Defesa Civil do Município e do Estado para conversar sobre as medidas urgentes que seriam necessárias.
É importante lembrar que a equipe do Iphan, ainda em 2021, iniciou o processo de Plano de Contingência para a Casa de Chico Mendes, sendo assim, o Instituto possuía os dados de cota de transbordamento do rio e cotas que atingem o bem edificado, facilitando o monitoramento.
Nesta segunda-feira (27/03), técnicos do Iphan estiveram presencialmente no local para averiguar a situação do bem e constataram que a água ainda não tinha atingido o assoalho da edificação. O Iphan então entrou em contato com o Corpo de Bombeiros para solicitar que a edificação fosse amarrada por questões de segurança, impedido sua movimentação com a subida do nível da água (pois a edificação trata-se de um chalé de madeira). Prontamente, o Corpo de Bombeiros à atendeu solicitação e amarrou a Casa.
Diariamente, o Iphan tem acesso às imagens externas da Casa de Chico Mendes e infelizmente o nível do rio ainda continua subindo. No momento, o Iphan está aguardando o nível do rio baixar para averiguar a situação da edificação e tomar as medidas necessárias."
*Texto atualizado com posicionamento do Iphan
Edição: Thalita Pires