Dados diários do Ministério da Saúde revelam que, até esta segunda-feira (27), o Brasil registrou crescimento de 38% nos casos de dengue, 73% nas ocorrências de chikungunya e 124% no índice de pessoas com zika em comparação ao mesmo período de 2022, quando os registros já eram altos.
Nos últimos anos, o acesso aos dados foi limitado por mudanças do governo de Jair Bolsonaro (PL), o que pode sugerir defasagem nas informações sobre o período.
“Nós nunca deixamos de estar com as arboviroses [entre nós]”, explica a bióloga Denise Valle, que atua no Laboratório de Medicina Experimental e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz. “O que aconteceu foi que acendemos a luz. Em certo sentido, é muito bom que agora possamos olhar e saber qual é o tamanho do problema. É muito importante prestarmos atenção não só nos casos, mas nos óbitos também. Muitas vezes você pode aumentar casos e não aumentar óbitos na mesma proporção. Isso significa que estamos conseguindo perceber e cuidar deles mais precocemente, antes que eles se agravem.”
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Até 27 de março, o Brasil registrou 121 casos fatais de dengue e 7 óbitos por chikungunya. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, desde o início do ano, os casos dessas duas doenças ultrapassam o limite máximo esperado. A tendência é de aumento nas próximas semanas e transmissão sustentada, quando o vírus circula livremente. Já a zika ainda não causou nenhuma morte, embora também represente uma preocupação.
O controle desse cenário depende não só da atuação da população com as medidas para monitorar e eliminar água parada, que serve de criadouro para o mosquito Aedes aegypti. As arboviroses são um problema de saúde pública significativo, que afeta mais a população de áreas com poucos recursos e condições sanitárias precárias.
“Precisamos olhar para isso com uma visão mais ampla. Claro que a participação da população é fundamental, mas não podemos esquecer que a saúde é uma responsabilidade compartilhada entre governo e sociedade. O governo tem um papel importante em garantir um saneamento básico adequado, em fazer a limpeza das ruas, em promover políticas públicas que garantam um ambiente saudável para a população. E isso envolve uma série de ações, desde a construção de sistemas de tratamento de esgoto até a destinação adequada do lixo”, pontua Denise Valle.
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Os dados por região, compilados até 24 de março, mostram que o Centro-Oeste registrou o maior número de casos de dengue, com mais de 316 ocorrências a cada 100 mil habitantes. Na sequência está o Sudeste, com mais de 290 casos por 100 mil pessoas, e o Sul, com 145 registros. Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais são os estados com as maiores altas na incidência da doença.
Quanto à chikungunya, a região que mais registrou casos prováveis foi o Sudeste, com 42,6 registros a cada 100 mil habitantes. Minas Gerais e Espírito Santo tiveram as maiores altas do país. A zika atingiu mais a população do Norte do Brasil. Em Tocantins, estado com a maior variação, o número de casos prováveis saltou de 18 em 2022 para 650 este ano.
Para conter a propagação, Denise Valle afirma que é preciso buscar soluções integradas com políticas em saúde pública, meio ambiente e planejamento urbano, por exemplo. A pesquisadora destaca também a importância da informação nesse processo. “A população precisa ter acesso a informações precisas e atualizadas sobre essas doenças, para que possa se prevenir e agir de forma adequada”, conclui.
Edição: Rodrigo Durão Coelho