A Praça de Maio, palco histórico da luta pelos direitos humanos na Argentina, em Buenos Aires, recebe nesta sexta-feira (24) milhares de pessoas para comemorar mais um Dia da Memória, Verdade e Justiça. A data remonta ao 24 de março de 1976, quando um golpe de Estado de lideranças militares, civis e religiosas instalou a última e mais sangrenta ditadura militar no país, que deixou como saldo 30 mil desaparecidos.
O ato desta sexta acontece no ano em que se comemoram os 40 anos de redemocratização da Argentina, e também é o primeiro Dia da Memória sem Hebe de Bonafini, uma das primeiras mães que começaram a marcha em volta da Praça de Maio em busca dos seus familiares desaparecidos. Hebe era presidenta da Associação das Mães da Praça de Maio e faleceu em dezembro do ano passado.
"A luta argentina em defesa dos direitos humanos se transforma a partir dessas mães e avós", afirmou o Secretário de Direitos Humanos da Argentina, Horacio Pietragalla, durante o 3º Fórum Mundial de Direitos Humanos que aconteceu esta semana.
O evento em Buenos Aires contou com o Ministro de Direitos Humanos do Brasil, Silvio Almeida, e ocorreu em um antigo centro de tortura da ditadura, a ESMA.
Pietragalla é vítima da ditadura argentina. Filho de desaparecidos, foi um dos bebês roubados pelos militares ao sequestrar mulheres grávidas ou crianças pequenas, prática recorrente na última ditadura do país – e que impulsionou as rondas das mães e avós na Praça de Maio. Horacio recuperou sua identidade em 2003, sendo o 75º neto recuperado pelas Avós da Praça de Maio. Hoje, já são 132 os netos recuperados. Os últimos dois foram recuperados em dezembro do ano passado.
“Há um elemento pontual que fez uma mudança categórica na construção da política de direitos humanos no país, que foi o amor. O amor de uma mãe em busca de um filho”, pontuou Pietragalla. “Eram mulheres de facções distintas: eram mães judias, católicas, ateias, de favelas, de classe média, de classe alta, mães que apoiaram o golpe por pensar que era um governo mais, mães que o repudiaram porque tinham consciência política. No entanto, nessa tragédia houve união entre essas diferenças e nunca perderam o objetivo, que é a memória, verdade e justiça e aparição com vida de cada companheiro que havia sido detido desaparecido”, disse o secretário.
Nos últimos anos, uma onda de negacionismo tem crescido com o setor conservador e a ascensão da extrema direita na Argentina. Portanto, algumas organizações políticas também levam à marcha desta sexta os ataques contra a democracia no país e a tentativa de assassinato da vice-presidenta Cristina Kirchner.
A Argentina é referência na luta pelos direitos humanos no mundo, com 1.115 responsáveis pelos crimes contra a humanidade.
Edição: Thales Schmidt