Símbolo de resistência à ditadura militar, o maranhense Manoel da Conceição é uma das maiores lideranças sociopolíticas do país e tem sua história contada em documentário lançado em fevereiro.
Perseguido, torturado e exilado, Manoel da Conceição dedicou sua vida à organização da luta pelos direitos dos trabalhadores rurais. Entre diversas prisões, machucado e sem assistência médica, teve uma perna amputada e fincou na história a marca de sua resistência sob o lema: “Minha perna é minha classe!”, título do documentário.
A produção é de Cássia Melo, com direção do cineasta Arturo Saboia, dupla premiada, vencedora de 6 Kikitos no Festival de Gramado pelo filme Acalanto, uma adaptação de um conto do Mia Couto.
“Contar a história do Manoel é contar a história do Brasil. Estamos falando de um homem que precisa desse resgate de memória sobre a sua vida, porque basicamente ele começou a questão do Partido dos Trabalhadores, fundou junto com Lula, e junto com outras pessoas ele representa a classe dos trabalhadores rurais”, conta Cássia Melo.
A produção teve início em 2019, com a coleta de relatos, entrevistas e materiais históricos sobre Manoel da Conceição, com o desafio de resumir sua trajetória em uma hora e meia. Ainda assim, muitas cenas acabaram ficando de fora, por isso a produção cogita fazer uma série documental.
“Tivemos dificuldade em resumir a vida dele em 1h30, mas pensamos que uma série de três capítulos de trinta minutos já se tem, e ainda falta muita coisa para ser contada. Então esperamos e até apelamos, para que as pessoas e empresas interessadas entrem em contato com a gente”, explica.
Com as condições físicas e psicológicas já debilitadas, Manoel faleceu no dia 18 de julho de 2021, em Imperatriz, interior do Maranhão, onde conviveu até os últimos instantes com a companheira Denise Leal.
“Para mim foi uma surpresa agradável, de muita emoção. Ali não sai tudo da vida de Manoel, porque é impossível, mas eu me emocionei demais, demais (...) eu nem falo muito sobrei isso, sabe?”, conta emocionada Denise Leal.
O documentário destaca recortes históricos do período da ditadura militar, onde Manoel era considerado um criminoso.
“Muitas vezes ele foi visto de maneira negativa pela ditadura, fizeram muita propaganda contra ele, mas agora não, agora as pessoas sabem quem realmente ele foi. Acho que todo mundo deveria assistir esse filme, independente de gostar dele ou não, mas acho que não tem quem não goste de Manoel... só a ditadura mesmo”.
Filha mais nova de Manoel da Conceição, Mariana Nóbrega contribui com movimentos sociais do Maranhão e fala sobre o legado deixado pelo pai, além da importância da continuidade dessa luta.
“Eu acho que é impossível a gente se descolar e não dar continuidade a essa luta. O maior legado que a gente pode ter é dar continuidade a essa luta, preservar a memória, fazer com que a gente lute por um mundo mais justo, humano, fraterno e solidário, onde as pessoas tenham acesso a dignidade, a melhores condições de vida e que possam estar pensando principalmente o campo, que é tão marginalizado. O campo como lugar de vida, de arte, de preservação e conservação do meio ambiente da cultura daquele lugar”, explica Mariana Nóbrega.
Serviço
O documentário ainda não está disponível para o público em geral, contando apenas com exibições gratuitas pontuais. A próxima exibição será no dia 18 de março, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, às 19h.
De acordo com a produção, o material será disponibilizado inicialmente para movimentos sociais e entidades ligadas à luta de Manoel da Conceição, mas em breve estará nas plataformas de streaming. Para mais informações acesse o instagram @minhapernaminhaclasse.
Edição: Rodrigo Durão Coelho