Filha única de Marielle Franco, Luyara Santos tinha 18 anos quando a mãe foi assassinada, em 14 de março de 2018, em um dos crimes políticos de maior repercussão da história brasileira. Cinco anos após a tragédia, ainda é desconhecida a motivação e o nome dos mandantes do homicídio.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Luyara Santos reflete sobre a demora da investigação. "Já passou meia década e seguimos com a ausência de resposta para a pergunta: 'quem mandou matar Marielle?'. Essa ausência de resposta reflete a negligência e a impunidade em casos de crimes contra a vida de pessoas que defendem os direitos humanos."
Na última sexta-feira (10), em entrevista à Agência Brasil, a mãe da Marielle Franco, a advogada Marinete Silva, afirmou ser contra a federalização da investigação do crime, medida proposta pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que já determinou a abertura de inquérito pela Polícia Federal.
"Não interessa para família, para mim. O crime foi no Rio de Janeiro. Acho que a Polícia Federal tem que estar junto, como sempre esteve. Muito mais agora com o [ministro Flávio] Dino. Mas a solução tem que partir do Rio de Janeiro. Foi lá que o crime aconteceu. O governo tem que dar uma resposta para mim, para a família, para a sociedade, para os eleitores da Marielle. Fui contra a federalização e fiz a campanha", sentenciou Marinete.
Mas Luyara está otimista com a nova fase da investigação. "Dois ministros já se manifestaram sobre a solução do caso. Podemos dizer que com a chegada do novo governo, temos mais esperança do caso ser resolvido", encerrou.
Confira a entrevista na íntegra:
Brasil de Fato: Qual a opinião da família sobre a investigação?
Luyara Santos: Já passou meia década e seguimos com a ausência de resposta para a pergunta: ‘quem mandou matar Marielle?’. Essa ausência de resposta reflete a negligência e a impunidade em casos de crimes contra a vida de pessoas que defendem os direitos humanos.
A investigação do crime contra Marielle e Anderson diz muito sobre como o Estado brasileiro lida com as graves violações de direitos humanos, sobretudo com as violações contra mulheres negras que participam da vida da política institucional. Esse crime marcou a história política brasileira e mundial, demonstrando a fragilidade da democracia no nosso país e levantou a importância do debate sobre a violência LGBTfóbica e o ataque contra defensores de direitos humanos.
Como a família acompanhou as investigações?
Ao longo dos anos, houveram várias mudanças no comando das investigações, obstruções, vazamento de informações e na maioria das vezes, nós, os familiares, só tomamos conhecimento das trocas no comando das investigações por meio da mídia.
Os familiares e a Fernanda, a única sobrevivente do crime, não temos acesso à investigação sobre os mandantes do crime. Isso mostra que o acesso à justiça para nós não é fácil.
As autoridades têm a obrigação de solucionar esse crime. Minha mãe deve ser lembrada pela sua mobilização da dignidade e contra as injustiças, não por um crime sem respostas.
A família e o instituto ainda acreditam que seja possível encontrar os mandantes do crime?
Não vamos desistir até alcançar justiça para minha mãe e para o Anderson. Ao longo dos anos, continuamos cobrando, a resposta tem que ser dada pelo Estado brasileiro, para o país e para o mundo.
Sabemos que, quanto mais o tempo passa, mais difícil preservar a memória de quem foi Marielle, principalmente para as novas gerações. A preservação da memória sobre quem foi a Marielle fortalece a nossa luta.
A chegada de um novo governo, que tem Anielle Franco em seu ministério, é uma esperança de resolução do crime?
Ela estar no Ministério da Igualdade Racial não muda o fato de que é irmã da Marielle. O Ministério não tem atribuição de elucidar esse crime e nem outros. Minha tia chega ao ministério por conta de sua forte trajetória política e social.
Já a mudança para um novo governo, entendemos que houve uma significativa mudança na política pública de direitos humanos. Dois ministros já se manifestaram sobre a solução do caso.
Podemos dizer que com a chegada do novo governo, temos mais esperança do caso ser resolvido.
Vocês são a favor da entrada da polícia federal para investigar o crime?
Esperamos que com a federalização do caso a família e a sobrevivente possam participar do processo de investigação.
Edição: Rodrigo Durão Coelho