Mais uma vez, mulheres protagonizaram um 8 de março histórico para o país. Os tradicionais atos que ocupam cidades de Norte a Sul do Brasil foram acompanhados de um protesto contra a vinícola de vinhos Salton, uma das acusadas de ser responsável indireta por um caso de trabalho análogo à escravidão no Rio Grande do Sul.
Vestindo blusas pretas e lenços de chita no rosto, cerca de 200 mulheres do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) fizeram intervenções com cantos e gritos de ordem na frente da sede da empresa de vinhos na Avenida Pacaembu, região central da cidade de São Paulo (SP). Em uma faixa, pintaram um cálice com os dizeres "vinho tinto de sangue".
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Na escadaria da entrada, foram colocadas caixas com verduras agroecológicas e balões de tinta vermelha pintaram a fachada do casarão. Mãos pintadas de vermelho marcaram a vitrine que expunha, sob um arranjo com taças penduradas, as garrafas da vinícola.
MST realizou protesto na sede da vinícola Salton em SP; empresa está implicada em caso de trabalho escravo no RS / Comunicação MST
A ação foi movida pela denúncia que surgiu no final do mês de fevereiro que envolve Salton e mais duas empresas que tinham contrato com a Fênix, prestadora de serviço flagrada submetendo 207 trabalhadores a condições análogas à escravidão na carga e descarga da uva, em Bento Gonçalves (RS).
O caso veio à tona no último 22 de fevereiro, com uma operação de resgate que foi possível depois que três trabalhadores fugiram e fizeram a denúncia. Entre as violências impostas a eles e seus colegas, estavam agressões com choques, spray de pimenta e cassetetes.
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Depois de oito dias sem se posicionar, a Salton soltou uma nota dizendo que não vai adotar "posição omissa" em relação ao episódio e que repudia "veementemente qualquer ato de violação dos direitos humanos".
Pelo país
Fora do protesto concentrado contra as vinícolas, atos em referência ao 8M foram registados em Porto Alegre (RS), Goiânia (GO), Porto Velho (RO), Teresina (PI), Crato (CE), Altamira (PA), São Luís (MA), Natal (RN), Vitória (ES), Curitiba (PR).
Milhares se reúnem na Avenida Paulista no Dia Internacional de Luta das Mulheres / Miguel Schincariol / AFP
No Rio de Janeiro (RJ), centenas de mulheres participaram do ato no centro da capital fluminense. A defesa da democracia, a luta contra o feminicídio e a violência contra a mulher, além da defesa da legalização do aborto foram as pautas mais reivindicadas durante a marcha, que saiu da praça da Candelária e terminou na Cinelândia com show do grupo de samba feminino É Samba que Elas Querem.
Cartazes lembraram a alta em 11% nos casos de feminicídio no ano de 2022 quando comparado com 2019. A morte da vereadora Marielle Franco, que completa cinco anos na próxima terça-feira (14) ainda sem resolução sobre os mandantes do assassinato também foi cantada pelo público.
Ato unificado do Dia Internacional de Luta das Mulheres em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão
Capital federal
Em Brasília, a principal ação em referência ao 8M aconteceu dentro do Palácio do Planalto, protagonizada pelo próprio governo federal.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou, nesta quarta-feira (8), um conjunto de medidas dirigidas às mulheres. A lista inclui, por exemplo, distribuição gratuita de absorventes, retomada de 1.189 obras de creches que estavam paralisadas pelo país, proposta de equidade salarial entre homens e mulheres e ratificação da Convenção 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Lula e militante durante cerimônia de celebração do Dia Internacional das Mulheres ,que anunciou conjunto de ações / Ricardo Stuckert/PR
"Houve um tempo em que o 8 de março era comemorado com distribuição de flores para as mulheres, enquanto os outros 364 dias do ano eram marcados pela discriminação, o machismo e a violência. Hoje, nós estamos aqui comemorando o 8 de março com o respeito que as mulheres exigem", disse Lula, ao agitar uma plateia formada por centenas de lideranças populares que compareceram ao Palácio do Planalto nesta quarta para prestigiar o anúncio, além de nomes como a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT).
O presidente Lula (PT) apresentou nesta quarta-feira (8), Dia Internacional de Luta das Mulheres, uma série de medidas em um Projeto de Lei (PL) para assegurar o combate à violência contra mulher e para promover equidade de gênero.
— Brasil de Fato (@brasildefato) March 8, 2023
Confira trecho de sua fala. ⤵ pic.twitter.com/kQCqiOw588
O pacote do governo prevê, por exemplo, a refundação do programa "Mulher Viver sem Violência", que inclui a construção de 40 novas unidades das Casas da Mulher Brasileira. A iniciativa contará com um investimento de R$ 372 milhões, que serão aplicados em ações como a doação de 270 viaturas para a Patrulha Maria da Penha para os diferentes estados do país.
Outra iniciativa de realce é o anúncio de um projeto de lei que será enviado ao Congresso Nacional com o objetivo de promover a igualdade salarial entre homens e mulheres que exerçam a mesma função no mercado de trabalho. A medida mira o combate à discriminação salarial de gênero, que voltou a subir no país em 2022, atingindo a marca de 21% de diferença de remuneração entre homens e mulheres. O índice é de um estudo do Dieese, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que vinha apontando para uma tendência de queda nos anos anteriores.
Card Bem Viver / Brasil de Fato
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Edição: Lucas Weber
