Representantes de movimentos populares, parlamentares e ex-presidentes do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) participaram de uma roda de conversa no centro do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (27), para debater e comemorar o retorno do órgão, por decisão do presidente Lula (PT), com o objetivo de formular políticas importantes de combate à fome.
A volta do Consea foi celebrada em mais de 40 cidades de 19 estados do país em todas as regiões com "banquetaços". Os atos ocorrem exatamente quatro anos após uma edição do evento para protestar contra a extinção do Consea pelo governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) por meio de medida provisória publicada em janeiro de 2019.
Leia mais: Extinto por Bolsonaro, Consea volta em março com foco em ações emergenciais
Além da roda de conversa, que aconteceu em uma praça ao lado da ONG Gastromotiva, e das ações para conscientização da importância do combate à fome com o público que passava pelo local, a organização não governamental distribuiu 500 quentinhas nos horários de almoço e de jantar, além de mais de 40 refeições para os voluntários que ajudaram na preparação dos alimentos.
Presidente do Consea entre 2012 e 2016, Maria Emília Pacheco lembrou que o conselho foi responsável por formular políticas que tiraram o Brasil do mapa da fome, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Ela afirmou, ainda, que a organização e mobilização da sociedade civil são necessárias para a criação de políticas pela garantia do direito à alimentação.
"É a sociedade que coloca a semente de novas políticas, portanto não haverá conselho se não houver, ao mesmo tempo, a mobilização e a organização social. Por isso, esse encontro aqui, hoje, tem um significado tão importante, ele espelha a vontade política de reafirmar todo dia o direito à alimentação adequada e saudável", disse Maria Emília.
Também ex-presidente do Consea entre 2007 a 2011 e professor do Departamento de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o economista Renato Maluf afirmou que "há muito o que comemorar", mas que os movimentos populares e as organizações não governamentais precisarão estar mobilizadas para fazer o conselho funcionar.
"O êxito que tivemos a partir de 2003 tem dois fatores fundamentais: o primeiro é a decisão política do presidente Lula, e não é o caso aqui de fazer propaganda de pessoas, mas de dar o mérito a quem tem. E, em segundo, a forma competente como a sociedade civil abriu espaços. Sem isso, sem o acúmulo de mobilização e força, não se explica nem mesmo o governo Lula e sua eleição. Estamos de volta a partir de amanhã", comemorou Renato Maluf.
Comida na mesa
A deputada estadual Marina do MST (PT) disse que um dos principais debates para o Consea será discutir a produção e a distribuição de alimentos a partir do embate entre o direito à comida para todos os brasileiros e brasileiras e o interesse do agronegócio, que prioriza a produção de commodities para exportação e sem levar em conta os cuidados com a terra, com a água e com as florestas.
"Nosso desafio é como garantir uma política de segurança alimentar que chegue aos mais de 30 milhões que passam fome hoje no país, sendo 10% no Rio de Janeiro. E discutir o modelo do agronegócio, para quem a produção de comida para todos e o cuidado com os bens da natureza nunca estão na ordem do dia. É o embate entre comida na mesa e o capital, a exploração do trabalho humano, como vimos recentemente com a produção de vinho no Rio Grande do Sul", pontuou a parlamentar.
O encontro também contou com as participações da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável e ACT Promoção da Saúde, do Conselho Regional de Nutricionistas da 4ª região (CRN-4), do Consea Rio de Janeiro, do Gastromotiva, da Unegro, da Associação da Diversidade em Direitos Humanos (ADDH) e do Pólo Cultural LGBTQIA+ Gastronômico.
Edição: Mariana Pitasse