Extremo Sul da Bahia

Contra monocultura de eucalipto, MST ocupa três áreas da Suzano Papel e Celulose

A ação com cerca de 1,5 mil pessoas aconteceu na madrugada desta segunda (27), em três cidades do sul baiano

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A ocupação das três áreas da maior empresa de celulose do país aconteceu simultaneamente durante a madrugada - MST-BA

Três áreas da empresa Suzano Papel e Celulose S/A no extremo sul da Bahia amanheceram, nesta segunda-feira (27), ocupadas por cerca de 1.550 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). As ocupações foram nas cidades de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas e visam denunciar o impacto do crescimento da monocultura de eucalipto na região. 

Os militantes afirmam não ter previsão de se retirar das áreas. Seguranças privados da Suzano estiveram na ocupação de Mucuri (BA) e, até o começo da tarde desta segunda (27), a polícia não se dirigiu até a área.  

"Essa empresa vem há décadas causando a destruição sistêmica dos nossos recursos hídricos, envenenando os solos e os rios", descreve Eliane Oliveira, da direção Estadual do MST na Bahia. Por isso, explica, "foi feita mais uma decisão política de ocupar essas áreas para que possamos denunciar o descaso, o desmando que a Suzano vem causando nessa região".

"Nós do MST estamos cientes da nossa missão pela reforma agrária e pela justiça social. Por isso viemos aqui perguntar: a que custo a Suzano está dentro desse território do extremo sul baiano?", expõe Oliveira. 

De acordo com nota do movimento, a produção em larga escala de eucalipto feita pela Suzano se expandiu na região ao longo dos últimos 30 anos. O uso de agrotóxicos na monocultura é feito, inclusive, por pulverização aérea.  


"Reafirmamos nossa disposição de luta para que não haja tanta terra para poucas empresas e tanta gente terra", diz Oliveira / MST-BA

Enquanto "a empresa prejudica as poucas áreas cultivadas pelas famílias camponesas", diz nota do MST, ela lucrou, "somente no terceiro bimestre de 2022, R$5,44 bilhões".

O Brasil de Fato entrou em contato com a Suzano, que se apresenta como a "maior empresa de celulose do mundo". A gigante do ramo disse que os atos do MST "violam o direito à propriedade privada e estão sujeitos à adoção de medidas judiciais para reintegrar a posse dessas áreas".

A companhia afirmou que no sul da Bahia gera "aproximadamente sete mil empregos diretos, mais de 20 mil postos de trabalho indiretos e beneficia cerca de 37 mil pessoas pelo efeito renda". A empresa informou, ainda, que reconhece a "relevância da sua presença nas áreas onde atua" e "reforça seu compromisso por manter um diálogo" de maneira "amigável e equilibrada". 

 

Ocupação de fazenda em Jacobina (BA) 

Nesta mesma madrugada de segunda-feira (27), o MST ocupou, com 150 famílias, uma fazenda improdutiva de nome Limoeiro e cerca de 1,7 mil hectares em Jacobina, município no centro do estado baiano. 

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Abraão Brito, articulador político do MST na Chapada Diamantina, conta que a área estava abandonada há ao menos 15 anos e que, até o momento, a polícia não foi ao local.  

"Essa ocupação se dá, de fato, pela necessidade. Bolsonaro, durante os quatro anos, tirou a reforma agrária da pauta, não destinou terra para a reforma agrária, e isso desenvolve a miséria e a fome no campo", situa Brito.  

"As pessoas estão desempregadas, a comida está muito cara, as pessoas não tem onde produzir. E por isso o MST ocupa terra para produzir comida. Hoje o pessoal já está preparando a terra para fazer seus barracos, produzir milho, abóbora, feijão, melancia", relata. 

O militante do MST afirma, ainda, que o movimento está aguardando que o presidente Lula (PT) cumpra "o compromisso de campanha de dar prioridade para a reforma agrária e assentar famílias que estão debaixo da lona preta."

Edição: Thalita Pires