Como brigar e procurar pelo nosso lugar, sem gritar pelos nossos direitos e encarar essa briga?
Depois de longos 11 anos no grupo de acesso do Carnaval de São Paulo, a escola de samba Camisa Verde e Branco, tradicional agremiação do bairro da Barra Funda, está de volta ao grupo especial.
A escola, que neste ano desfilou com o enredo Invisíveis - uma história sobre aqueles que estão à margem da sociedade, reféns do grande capital - ficou em segundo lugar, atrás da campeã Vai-Vai e garantiu seu lugar entre as principais escolas no ano de 2024.
Confira o programa na íntegra:
Uma das maiores campeãs do carnaval paulista, com nove títulos, quatro deles consecutivos entre os anos de 1974 e 1977, a Camisa Verde e Branco precisou se reinventar nos últimos quatro anos, sob a gestão da Família Ferro.
::Carnaval: cultura popular e resistência::
Ao lado de Vai-Vai e as tradicionais escolas Nenê de Vila Matilde, Unidos do Peruche e X-9 Paulistana, que disputavam o acesso ao grupo especial neste ano, juntas somavam 40 títulos do carnaval paulista, nove a mais do que as escolas que participavam da primeira divisão.
As mudanças dos últimos anos, segundo o vice-presidente, João Victor Ferro, “engessaram a escola”. “A Camisa Verde sempre teve um estilo de desfile muito próprio. A escola sempre foi muito solta, uma escola muito expressiva. Os anos foram passando, o regulamento foi mudando e começou a ser mais engessado”, explica o carnavalesco.
“Hoje, se você for assistir aos desfiles, vê que o componente não tem muita expressão corporal, é todo mundo enfileirado, os sambas tem uma outra vertente”, completa Ferro, que foi entrevista desta semana no BDF Entrevista.
Após o apoteótico carnaval da Mangueira, de 2019, que homenageou Marielle Franco e outros heróis da resistência que nunca constaram nos livros de história, Ferro acredita que as escolas de samba entenderam que a política e o samba precisavam se reencontrar.
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“Eu vejo as escolas de samba como resistência. Nós resistimos o tempo todo. E as comunidades de escola de samba hoje, infelizmente, nós somos uma minoria, estamos brigando e procurando o nosso lugar de fato. E como brigar e procurar pelo nosso lugar, sem gritar pelos nossos direitos e encarar essa briga?”, explica Ferro.
“Acho que as escolas de samba estão entendendo que a gente precisa trazer esse tipo de temática. No Rio de Janeiro, isso já está muito forte e está tomando uma proporção bem grande. E São Paulo começou a entender as coisas dessa forma também”, completa.
Edição: Rodrigo Durão Coelho