Com 181 anos de história, a Polícia Civil (PC) do Rio Grande do Sul, pela primeira vez será comandada por um delegado autodeclarado negro. Fernando Antônio Sodré de Oliveira assumiu a chefia da corporação na última terça-feira (14). A solenidade ocorreu no auditório do Palácio da Polícia, em Porto Alegre.
“Tal escolha traz consigo o enfrentamento efetivo do racismo estrutural, sendo que o Rio Grande do Sul, a cada dia, nos ensina mais sobre a importância e a força da diversidade. Temos a certeza de que não galgamos essa função pela questão racial, mas o importante, e o que todos precisam perceber, é que não deixamos de ser escolhidos por essa questão”, frisou o delegado Fernando Sodré, pontuando que sua indicação representa a superação de paradigmas.
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Em sua intervenção o delegado disse que sua atuação terá como foco a proteção dos grupos vulneráveis e o combate ao crime organizado, aos crimes violentos, como homicídios e feminicídios, aos crimes patrimoniais e ao tráfico de drogas. Também vai buscar uma integração cada vez maior com as demais forças de segurança, com investimento em inteligência.
O governador Eduardo Leite (PSDB) destacou a representatividade da escolha de Sodré para assumir o posto mais alto da PC. “Com muito orgulho e muita honra, depois de ter a oportunidade, como governador, de guindar à posição de chefe de Polícia a primeira mulher, hoje estamos conduzindo à mesma posição, pela primeira vez, um homem negro”, disse. Segundo ele, isso deveria ser algo natural e que já deveria ter acontecido há mais tempo.
"Importância histórica", avalia sindicato
Na avaliação do Ugeirm, sindicato que representa os agentes da Polícia Civil no Rio Grande do Sul, a nomeação do primeiro negro na Chefia de Polícia é um avanço para o estado. "Assim como a delegada Nadine Anflor teve uma importância histórica por ser a primeira mulher a ocupar a Chefia da Polícia Civil, a nomeação do delegado Fernando Antônio Sodré também marca a história do nosso estado. Com um histórico de participação nas discussões sobre a questão racial na Polícia Civil e na nossa sociedade, o novo Chefe de Polícia gera uma expectativa de que a discussão racial ganhe uma importância ainda maior dentro da Polícia Civil gaúcha", afirma em nota.
Para a diretora de Assuntos Étnicos-raciais da UGEIRM, Comissária Ana Janete Lopes da Silva, a ocupação de espaços de poder pelos negros e negras dentro da instituição é muito importante para que se possa superar o racismo institucional, que ainda vigora no serviço público do estado e do país. “O delegado Sodré sempre demonstrou uma grande sensibilidade e acúmulo a respeito da discussão racial na Polícia Civil e na sociedade. Além disso, o simples fato de termos um negro no principal posto da Polícia Civil é um grande avanço na representatividade da população negra do nosso estado”, ressalta .
Sobre o delegado Fernando Antônio Sodré de Oliveira
O novo chefe da Polícia Civil é natural de São Paulo, tem 58 anos. É delegado da Polícia Civil desde 1998. Com 24 anos de serviços à instituição, já alcançou a 4ª classe, mais alto nível da carreira. Desde 2019, atuava como titular da 13ª Delegacia de Polícia Regional do Interior, em Santo Ângelo, cargo que já havia ocupado de 2011 a 2015.
Entre 2016 e 2019, dirigiu o Departamento de Polícia do Interior (DPI), o maior departamento da instituição, responsável por coordenar 29 Regiões Policiais, abrangendo 470 municípios.
Sodré foi titular da 21ª Delegacia de Polícia Regional do Interior em Santiago, de 2011 a 2016. Entre 1998 e 2010, teve passagens na chefia de delegacias de polícia e distritos policiais nos municípios de Cerro Largo, Porto Alegre, Caxias do Sul, São Luiz Gonzaga e Santo Antônio das Missões. Ainda exerceu a função de coordenador de força-tarefa de combate a abigeatos.
É bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e em Direito pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Concluiu dois mestrados: em Aplicações Militares, pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais/RJ, e em Filosofia, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente, cursa doutorado em Direitos Humanos na Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS (Unijuí). Ainda tem especialização em Supervisão Escolar pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em Direito Penal pela UCS e em Segurança Pública pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Professor universitário desde 2005 e de cursos preparatórios para concursos desde 2001, atualmente leciona na Universidade Regional Integrada (URI), no campus Cerro Largo, e na Escola da Magistratura Federal do RS (Esmafe).
*Com informações da Governo do RS e Ugeirm
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira