Para o cantor e um dos precursores do samba-reggae na Bahia Lazzo Matumbi, a estrutura do eixo oficial do carnaval de Salvador atualiza as práticas de racismo, oprime a população mais pobre e tira o brilho do que deve ser central: a participação popular no evento.
"O carnaval, pra mim, precisa ser rediscutido, em que o ponto mais importante fosse o povo. O carnaval de Salvador, hoje, privilegia muito mais o artista no trio elétrico do que o povo. Eu vejo o povo imprensado entre a corda de um bloco, o tapume de camarote e o cassetete da polícia".
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Sobre o estilo atual da festa, Matumbi disse que ele mudou ao longo dos últimos quarenta anos, mas ainda conservou elementos que reforçam o racismo e a exclusão.
"Salvador é uma cidade muito racista. Hoje, o que a gente vê, na realidade, são os camarotes, que são nada mais, nada menos do que os grandes clubes que impediam a entrada de pobre e pretos, só que hoje na avenida, no espaço público."
As declarações de Matumbi foram dadas ao programa Central do Brasil desta quarta-feira (15). Ele comentou sobre as origens do Bloco Ilê Aiyê, do qual ele fez parte nos anos 1970, e descreveu a importância da religiosidade africana na mobilização do bloco. "É o que nós mantém vivos", disse.
Matumbi, no entanto, acredita que a festa continua tendo o caráter de resistência e que pode ser um canal de manifestação política.
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"O Brasil tem uma mania de achar que o carnaval é só o circo e o pão, onde a gente tá se divertindo e se esquecendo do jeito que a gente vive. Eu acho que a gente tem que ter a consciência de levar para a festa do carnaval as nossa reivindicações", disse, explicando o poder da festa de ecoar as lutas populares.
"O carnaval de Salvador, para mim, ainda é o grande ápice do que acontece durante o ano inteiro. Uma grande discussão racial, social e econômica". concluiu.
Assista a entrevista completa no programa Central do Brasil desta quarta-feira
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O programa Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato e exibido de segunda a sexta-feira, às 12h30, pela Rede TVT e outras emissoras públicas parceiras espalhadas pelo país.
Edição: Nicolau Soares