Pernambuco

Coluna

A brutal desigualdade na distribuição de médicos no país

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Com a saída de Cuba do Programa Mais Médicos em 2021, o Brasil deixa de contar com o apoio de 8 mil profissionais cubanos
Com a saída de Cuba do Programa Mais Médicos em 2021, o Brasil deixa de contar com o apoio de 8 mil profissionais cubanos - Reprodução Opas/ OMS
Em Pernambuco a presença de médicos na capital chega a ser quase 10 vezes maior que no interior

Saiu esta semana a nova edição de um estudo denominado Demografia Médica no Brasil, conduzido pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Neste documento, vale o olhar atento para dados que apontam o enorme desafio que temos pela frente na tarefa de levar médicos e médicas para quem precisa em nosso país. Há muitos números interessantes a analisar, mas vou tomar a liberdade de destacar um dos pontos no texto abaixo.

Há uma brutal desigualdade na distribuição de profissionais de medicina em nosso país. Isso não é uma novidade, nós já sabemos. Mas ter estes números atualizados reforça a importância do tema e a necessidade de enfrentá-lo. Para efeito de comparação, adianto que em junho de 2022, quando o estudo foi consolidado, o Brasil possuía 514.215 médicos, o que dá uma razão de 2,41 profissionais para cada mil habitantes. Mas será que esta razão nacional dá conta da realidade em todo o território? 

As regiões norte e nordeste apresentam, respectivamente, razões de 1,45 e 1,93, abaixo da média nacional. A região sudeste, na outra ponta, apresenta 3,39 médicos por mil habitantes. Já temos aí uma diferença significativa. Mas a comparação entre capitais e interiores é ainda pior. Nas capitais temos uma razão de 6,13, enquanto nos interiores está em 1,84, mais de três vezes menor. 

Dá para piorar? Dá sim: em alguns estados a discrepância entre capital e interior é bem maior. Vou utilizar o exemplo de Pernambuco, onde a presença de médicos na capital chega a ser quase 10 vezes maior que no interior (8,89 x 0,93). 

Há quem olhe para esta realidade e opte por apontar o dedo para os médicos e para as médicas como os culpados por optar por viver nas capitais. Eu não me alinho a esta crítica. E olhe que fiz o caminho inverso, ao sair da capital e vir morar no interior logo que me formei. O problema aqui não é de ordem pessoal. O que há é um problema estrutural de insuficiência de políticas públicas a contribuir com uma melhor distribuição dos profissionais.

O Programa Mais Médicos foi quem melhor contribuiu na diminuição do impacto deste problema. Por isso da necessidade de fortalecê-lo agora neste momento de reconstrução do país e do Sistema Único de Saúde. Isso como uma medida mais emergencial. Mas naturalmente que é insuficiente. Uma combinação de outras políticas serão necessárias para voltarmos a olhar para a saúde do povo brasileiro. 

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga