As polícias do estado do Rio de Janeiro mataram 1.327 pessoas no ano de 2022, isso representa 29,7% de todas as mortes violentas na federação. Ou seja, as forças policiais são responsáveis por um terço da violência letal. Os dados foram divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) no último dia 19.
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Em artigo publicado na semana passada, a cientista social Silvia Ramos, que é coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança, lembrou que os altos índices de letalidade provocada por agentes de segurança em supostas operações policiais vêm se repetindo anos após ano no governo de Cláudio Castro (PL), mas que o número atual não deixa de ser "estarrecedor".
"Algumas vezes essas ações têm muita visibilidade, quando ocorrem vários mortos em uma única operação (chacinas policiais), quando ocorrem em favelas conhecidas com presença de grupos de ativistas locais ou quando morrem crianças ou mulheres. Podemos contar talvez dez, vinte, trinta, quarenta episódios assim num ano. Mas se juntarmos todos os registros que lemos na mídia profissional e redes sociais, chegaremos em média a 300 mortes. E as outras mortes que somam 1.327?", questiona Ramos.
Ainda segundo a socióloga, a maioria das mortes decorrentes de ação policial ocorre silenciosamente, em bairros com pouco capital social, sem grupos locais com capacidade de vocalização, sem a presença de mães heroicas que trocam suas vidas pela luta por justiça.
"Existe um varejo da letalidade policial em bairros distantes do olhar da sociedade e do controle, onde agentes sabem previamente que aquele homicídio 'não vai dar em nada'. São execuções extrajudiciais, acertos relacionados à corrupção, vinganças, negligências e acidentes. Quando somamos tudo dá mais de 1.300. Mortes inúteis, fúteis, preveníveis", afirma ela.
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A coordenadora da Rede de Observatórios chama atenção também para o fato de que 87,3% dos mortos pela polícia no Rio de Janeiro em 2021 eram negros.
Segundo o ISP, estas são as áreas integradas em que a polícia matou mais de 50 pessoas em 2022: Seropédica, Itaguaí e Queimados (139 pessoas); São Gonçalo (131); Duque de Caxias (129); Vigário Geral, Parada de Lucas e Penha (92); Acari, Costa Barros e Vicente de Carvalho (84 pessoas); Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis (81); Niterói (79); Bangu (63); Mangaratiba, Angra e Paraty (60); Belford Roxo (58) e São João de Meriti (54).
"Qualquer governo preocupado com a segurança já teria providenciado estudos e levantamentos nos registros para compreender as mudanças nos fenômenos. Mas no Rio de Janeiro não existe uma secretaria de segurança. As polícias individualmente não têm qualquer interesse no tema", critica Ramos, apontando ainda omissão do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Edição: Eduardo Miranda