Alvo de grave ofensa feita por supostos torcedores do Atlético de Madri, o jogador brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid, respondeu da maneira que lhe cabia: fez um belo gol na partida entre os times na última quinta-feira (26) e postou nas redes sociais uma provocação saudável, dizendo que a capital espanhola "só tem um time" (ou seja, o dele). Entretanto, o episódio, que se somou a outras agressões de cunho racista que ele já tinha recebido na Espanha, demanda respostas mais duras de outras pessoas e de entidades.
O diretor do Observatório Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, avalia que falta punição. Ele afirma que Vinícius, que disputou a última Copa do Mundo pela Seleção Brasileira, é vítima de uma verdadeira perseguição na Espanha, e que isso é resultado de negligência da Federação Espanhola de futebol, do governo e demais autoridades do país.
"Como da primeira vez que aconteceu ninguém foi punido, as pessoas estão se sentindo cada vez mais à vontade para expressar esse racismo contra o Vinícius Júnior. E vai acontecer de novo se nada for feito. A negligência de todos que deveriam tratar do caso está fazendo com que os outros torcedores, de outros clubes, repitam os atos dos torcedores do Atlético, que tornam a repetir a cada clássico", alerta.
Vinícius, que marcou o terceiro gol da vitória por 3 a 1 de sua equipe sobre o rival de Madri na partida de quinta-feira, é vítima de agressões acima do tom daquelas que se tornaram habituais nos estádios europeus, avalia Carvalho.
"As autoridades precisam entender que o que está acontecendo com o Vinícius é além do racismo. É uma violência maior que a violência racista. Ela engloba xenofobia, mas é resultado de um ódio muito grande dos torcedores rivais contra um atleta negro. Algo precisa ser feito para que isso não volte a se repetir", afirma.
Ações coletivas
O ex-árbitro Márcio Chagas afirma que as entidades que organizam o futebol, como a Federação Internacional de Futebol (Fifa), não vão se movimentar. Por isso, ele acredita que é necessário um engajamento dos principais jogadores brasileiros em manifestações coletivas duras, que causem impacto na organização do futebol.
"Óbvio que falo de uma situação distante do imaginário e do convívio deles, mas eu gostaria que todos os que jogam na Europa e têm destaque, que são principalmente os que participaram da Copa do Mundo, pegassem um avião e viessem para o Brasil e se negassem a jogar no futebol Europeu até que alguma coisa fosse feita pela Fifa, pela La Liga [que organiza o campeonato espanhol], pela Uefa [entidade que gerencia o futebol europeu], pelos outros jogadores que também participam dessas competições europeias", sugere.
Chagas lembra que a Fifa criou, em 2019, uma série de dispositivos para tentar coibir as manifestações racistas. Entretanto, essas medidas quase sempre recaem sobre os árbitros das partidas, que têm, por exemplo, a prerrogativa de encerrar um jogo em caso de ofensas persistentes.
"Aí vem um questionamento que gosto de fazer frequentemente: vocês já viram algum árbitro negro apitando em campeonato europeu?! Então quem é que vai comprar essa briga contra bilheteria, contra o clube, contra a organização de uma competição? Ninguém! Se não partir desses jogadores, que são os ícones, não vai mudar absolutamente nada, nem na Europa, nem no Brasil", pontua.
Edição: Nicolau Soares