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Interventor da segurança do DF afirma que terrorismo em Brasília foi "precedido por ensaios"

Em entrevista, Ricardo Cappelli diz que acampamentos bolsonaristas foram espaço para conspirações contra a democracia

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Cappelli chefia a segurança pública no Distrito Federal desde o dia dos ataques - José Cruz/Agência Brasil

O interventor federal na segurança pública do Distrito Federal (DF), Ricardo Cappelli, afirmou, nesta quinta-feira (19), em entrevista ao Jornal Brasil Atual, que uma das linhas de investigação sobre a tentativa de golpe de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, em Brasília, no último dia 8, também vem ligando outros atos de terrorismo promovidos por bolsonaristas desde a diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 12 de dezembro. 

Na ocasião, criminosos incendiaram ônibus e carros, formaram barricadas na capital federal, espalhando botijões de gás pelas ruas, além de tentarem invadir o prédio da Polícia Federal e ameaçar a segurança dos cidadãos da zona central do Distrito Federal. O ataque foi seguido pela tentativa frustrada do empresário bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa de detonar um caminhão de combustível próximo ao aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro. 

Preso no mesmo dia, o terrorista confessou que planejava “impor estado de sítio” no país para impedir a posse de Lula. De acordo com o interventor e secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, todas esses atos criminosos estão sendo ligados. Eles também já indicam que o acampamento montado após a derrota de Bolsonaro, em outubro, na frente do Quartel-General do Exército no DF, “na verdade era um QG do crime. Um acampamento do crime”, descreveu ao jornalista Rafael Garcia. 

Identificação de agentes

“Esse trabalho (de investigação) é meticuloso e claro que o evento do dia 8 é precedido por ensaios”, observou Cappelli. “Porque vários desses personagens a gente consegue identificar que passaram por aquele acampamento onde eram construídas conspirações e planos para atentar contra a democracia brasileira. Existe aí um fio condutor em que um ponto é central: o acampamento, que foi desmontado com sucesso e êxito no dia 9”, detalhou. 

Durante a entrevista, o interventor garantiu que não há chances de se repetir na capital federal os atos “inaceitáveis” do último dia 8. De acordo com ele, o que houve foi um “problema de comando e de planejamento adequado”. Havia um certo vácuo no comando da Polícia Militar do Distrito Federal. O que permitiu, em sua visão, a invasão e a depredação da sede dos Três Poderes. “Até porque, do ponto de vista numérico, o ato dos bolsonaristas não foi grande para o padrão de atuação da PM do DF, preparada para lidar com manifestações de até 100 mil pessoas”, segundo ele. 

Cappelli chegou a visitar os 44 policiais militares feridos e disse ter ouvido de alguns deles relatos de que, no meio dos manifestantes, havia homens com treinamento para combate e táticas militares, que pareciam conhecer o “campo de batalha”. Inclusive portavam, de acordo com o interventor, equipamentos como luvas apropriadas para recolher as bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para mirá-las contra os PMs que tentavam conter os atos de terror.  

Responsabilização 

Há um trabalho agora para identificar se essas pessoas são integrantes da própria polícia do Distrito Federal. 

“A Polícia Federal está fazendo a maior mobilização de peritos da história da instituição. São dezenas de profissionais que estão neste momento debruçados sobre as imagens e fazendo perícias em todos os locais. Eu tenho absoluta confiança de que quem cometeu crime no dia 8 será identificado e punido na forma da lei. O fato de um ou outro ter conseguido escapar não vai isentá-lo e eximi-lo de sua responsabilidade. Porque vamos identificar e punir todos aqueles que cometeram crimes no dia 8”, destacou Cappelli. 

O interventor avalia compensações aos policiais que foram feridos ao “colocarem a própria vida em risco para defender a democracia”. Nesta semana, ele também anunciou que vai analisar se os terroristas tinham conhecimento das plantas do Palácio do Planalto e da Câmara dos Deputados. Até a noite desta quarta (18), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes já havia convertido a prisão em flagrante em preventiva, sem prazo para terminar, de 354 pessoas. Elas são acusadas por pelo menos sete crimes, incluindo golpe de estado

Outras 220 receberam liberdade provisória com aplicação de medidas cautelares. Ao todo, 1.459 pessoas foram detidas pelos atos de terrorismo em Brasília. O gabinete do ministro afirmou que a análise de todas as atas de audiências de custódia devem ser feitas até esta sexta (20).