FILHOTES DA DITADURA

Dispensado por Lula, primo de torturador Coronel Ustra ganhou R$ 134 mil extras em cargo no GSI

Marcelo Ustra da Silva Soares teve acréscimo no salário de R$ 1.432,40 durante 30 meses, além de R$ 91 mil em diárias

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Primo de torturador ganhou cargo no GSI com Jair Bolsonaro em julho de 2020 - Reprodução/Facebook

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dispensou, nesta terça-feira (17), o primo do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador da Ditadura Militar (1964-1985) de um cargo no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que ele ocupava desde julho de 2020, nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A dispensa ocorre menos de um dia depois de reportagem do Brasil de Fato revelar, em primeira mão, que o tenente-coronel Marcelo Ustra da Silva Soares viajou com a comitiva de Bolsonaro a Orlando, nos Estados Unidos. A informação foi repercutida pelos principais veículos de comunicação do país.


Portaria que dispensa Marcelo Ustra da Silva Soares de cargo no GSI, publicada nesta terça-feira (17) / Reprodução/Diário Oficial da União

Marcelo Ustra da Silva Soares é bisneto de Celanira Martins Ustra, avó de Brilhante Ustra. Com o cargo oferecido por Bolsonaro, o primo – e admirador – do torturador engordou seus ganhos financeiros de forma inédita em sua trajetória no serviço público, iniciada no Exército em fevereiro de 1997.

Ganhos no cargo superam R$ 134 mil

O posto de confiança com o ex-presidente rendeu, ao todo, mais de R$ 134 mil a Marcelo Ustra da Silva Soares. O acréscimo no salário, durante os 30 meses em que esteve no GSI, foi de R$ 1.432,40 (no total, R$ 42.972,00). Com diárias nas viagens presidenciais, o tenente-coronel também multiplicou os ganhos (no total, cerca de R$ 91 mil).

Em 2022, em 26 viagens, ganhou R$ 35.206,00. No ano anterior, foram 15 viagens, somando R$ 25,769,84. Em 2020, ano que chegou ao GSI, ganhou R$ 30.894,74 em viagens a serviço. Em 2019, antes de chegar a Brasília, o ganho com diárias foi de apenas R$ 2.610,20.

:: Conheça a história sombria do coronel Ustra, torturador e ídolo de Bolsonaro ::

Viagem a Orlando

Marcelo Ustra da Silva Soares, primo do torturador, foi um dos 24 servidores do Poder Executivo Federal que embarcaram na viagem do ex-presidente entre 28 e 30 de dezembro de 2022, de acordo com informações localizadas pelo Brasil de Fato no Portal da Transparência.

Na viagem aos EUA, Marcelo Ustra da Silva Soares foi escalado para embarcar em 28 de dezembro, para trabalhar nos preparativos para a chegada da família presidencial. De acordo com os registros oficiais, o retorno ao Brasil ocorreu em 1º de janeiro de 2023.

Em julho de 2021, quando a contratação de Marcelo Ustra da Silva Soares pelo Planalto foi noticiada em veículos de comunicação, o militar negou que o emprego em cargo de confiança no governo federal tivesse relação com a família.

"A nomeação não tem absolutamente nada a ver com indicação, com família. É uma nomeação de um plano normal de seleção dentro do Exército", afirmou Marcelo à coluna do repórter Guilherme Amado, do site Metrópoles, no ano retrasado.

Meses depois, em dezembro de 2021, Marcelo Ustra da Silva Soares foi promovido ao posto de coronel do Exército "por merecimento". Ele era major da Cavalaria e, antes de chegar à Presidência, servia no Rio Grande do Sul.

Em sua conta no Facebook, em novembro de 2022, o assessor do GSI de Bolsonaro publicou um vídeo do depoimento de Coronel Ustra na Comissão da Verdade que exibia o seguinte comentário: "Alguém pelo amor de Deus ressucitem (sic) este homem urgente!!!".

Outro lado

Como o agora ex-presidente Jar Bolsonaro não tem assessoria de imprensa constituída, não foi possível entrar em contato com sua equipe para buscar um posicionamento para a elaboração desta reportagem. O espaço, porém, segue aberto para manifestações, e o texto poderá ser atualizado.

Brasil de Fato tentou estabelecer contato com coronel Marcelo Ustra da Silva Soares por meio de sua conta no Facebook. Até o momento, não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.

Edição: Thalita Pires