O Gereba continua na ativa, criativo, compõe músicas todos os dias e é um grande contador de causos
Alguém aí sabe o que significa a palavra jereba? Se forem procurar em algum dicionário, a palavra se escreve com J. Eu procurei e achei: jereba pode ser uma palavra usada para falar de um animal ruim de montaria, magro e fraco; pode ser também um sujeito desajeitado, um tipo de arraia existente na Bahia, um sinônimo de urubu-rei, ou pano atado em arame para lavar carros.
A palavra vem do tupi, e pode ser traduzida por “o girante, o que voa dando voltas”, então acho que tem mais a ver com o urubu-rei, também conhecido como urubu-caçador.
Mas tem um sujeito apelidado Gereba, só que iniciando a palavra com a letra G, que não é nada disso. É um grande músico, grande compositor, que fazia parte um grupo musical muito bom, o Bendegó, há algumas décadas.
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Bendegó, ou Bendengó, é o nome um riacho e um povoado do município de Monte Santo, na Bahia. O maior meteorito já encontrado no Brasil caiu nas margens do riacho Bendegó, em 1784, e por isso recebeu esse nome, mas foi levado para o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, aquele que pegou fogo.
Os músicos do Bendegó eram todos daquela região.
Uma época mudou o grupo inteiro para uma casa da Vila Madalena, em São Paulo, e a casa em que moravam virou ponto de festa permanente.
O Gereba continua na ativa, criativo, compõe músicas todos os dias e é um grande contador de causos. Ficamos amigos, e ele me contou uns causos de Uauá, Tucano e outras cidades dentro ou perto do Raso da Catarina, região mais seca do Brasil.
Um dos causos é de um caminhoneiro que resolveu escrever no para-choque ou na carroceria de seu caminhão um ditado do sertão baiano: “Topo tudo a todo tempo”. Mas na hora de escrever, bateu uma dúvida: alguma dessas palavras tem acento?
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O caminhoneiro não sabia, e tinha raiva dos acentos. Dizia: “Inventaram esse negócio de pôr acento nas palavras, e eu não sei onde colocar”. Depois de muito pensar, decidiu: “Vou pôr em todas as palavras”. E tascou acentos agudos nas palavras, mas na última sílaba de todas elas: “Topó tudó a todó tempó”.
Virou gozação. Quando a molecada via seu caminhão passando, gritava: “Topó tudó a todó tempó”. Ele brecava o veículo e saía brabo querendo dar um corretivo em quem gritou. Nunca conseguiu pegar nenhum.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir