O bolsonarismo, como expressão da extrema direita no Brasil, comprovou neste domingo que certamente não será somente a derrota nas urnas que irá pará-lo. A página infeliz da nossa história marcada pelo personagem do Bolsonaro e seus asseclas ainda não foi virada.
Ainda não, mas será.
O mundo assistiu atônito às cenas de depredação dos espaços físicos símbolos da democracia brasileira. No centro do poder institucional, os três poderes, constantemente atacados nos últimos quatro anos, foram invadidos por uma horda extremista. Foram depredados material e imaterialmente, com o intuito de desestabilizar, gerar crise e criar condições para futuras ações antidemocráticas. Os vândalos buscavam demonstrar força: “tomamos tudo! É nosso!”.
As ações terroristas deste domingo impõem uma urgência na responsabilização e no cumprimento da Constituição. A longa noite vivida este domingo não foi como no passado das ditaduras. A determinação, ainda que tardia, de encerramento dos acampamentos golpistas, o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, a intervenção federal decretada pelo presidente Lula e a detenção dos golpistas demonstram que não há como virar essa página sem a responsabilização direta de todas as autoridades que foram coniventes e inflaram a horda. E também daqueles que a financiam, em sua maioria grandes empresários do setor agro e comercial, como se vem comprovando.
Mais do que isso, exigirá do governo um esforço para desaparelhar o Estado, especialmente as Forças Armadas. Há forte intencionalidade política nas omissões e conivências.
A conjuntura demandará dos movimentos e organizações populares ocuparem as ruas, fortalecerem suas pautas sociais e ampliarem debates para combater o espírito anti-informação. Caberá a nós, veículos de comunicação comprometidos com trabalhadoras e trabalhadores brasileiros, produzir conteúdo jornalístico com apuração rigorosa, denunciar ataques aos direitos da população e seguir combatendo as notícias falsas.
Esse cenário de caos só se tornou possível também porque foi permitido que um deputado federal homenageasse um torturador dentro da Casa do Povo e saísse ileso. E que depois disso seguisse quatro anos bravateando sandices e fantasias, com outras tantas conivências e alianças. Não nos esqueçamos também do papel de atores do Judiciário, do Parlamento, da mídia comercial e dos falsos religiosos.
Portanto, mais do que nunca, não podemos aceitar que haja anistia. Em uma sociedade se pode divergir no campo das ideias, com acesso plural a informações e espaços de debates, mas não se pode tolerar o intolerável. É o que se espera das instituições, da população, dos profissionais do jornalismo, de chefes de Estado, nas respostas dadas ao fascismo e ao racismo, aos atos terroristas e a todo e qualquer ataque à democracia e à vida. Sem anistia!
Edição: Glauco Faria