A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos atravessa uma situação incomum. Os republicanos são donos de 222 cadeiras, mas mesmo assim não conseguiram reunir os 218 votos necessários para eleger o novo presidente do Legislativo. A votação começou na terça-feira (3) e se repete nesta quarta-feira (4), ainda sem resolução. As regras preveem que a votação seja refeita até que um nome alcance os votos necessários.
A última vez que isso aconteceu foi em 1923, quando foram necessários nove votações até a consagração de um vencedor, informa o The New York Times.
Nas duas primeiras votações, o republicano Kevin McCarthy alcançou 203 votos. Na quinta e mais recente tentativa, já nesta quarta, foram 201 votos. O resultado mostra que o impasse continua mesmo após o ex-presidente Donald Trump tentar solucionar a questão.
Na rede social que criou após ser banido no Facebook e Twitter na esteira da tentativa de golpe de Estado que patrocinou em 6 de janeiro de 2021, Trump afirmou: "Agora é hora de todos os nossos grandes membros republicanos da Câmara votarem em Kevin, fechar o negócio, conquistar a vitória.".
Para Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a situação demonstra que Trump, apesar da força que tem no partido, "não é agregador". O ex-presidente é apontado por alas do partido como o responsável pelos republicanos não terem conquistado uma vitória expressiva nas eleições de meio de mandato como as pesquisas de opinião indicavam.
"É uma reação incomum, mas o aumento de divisões e falta de coordenação dentro do partido republicano já se notava desde a eleição parlamentar em 2022. Resultado de um acirramento de posições desde o Governo Trump. O partido terá que se reiventar, mas poucos acreditam na capacidade de liderança do McCarthy após toda essa confusão, mesmo que ele alcance a maioria para se transformar em líder", diz a pesquisadora ao Brasil de Fato.
Ainda de acordo com Holzhacker, uma liderança fraca no comando da Congresso não interessa sequer ao presidente e democrata Joe Biden, que se vê diante de um partido republicano dividido entre "extrema direita, os trumpistas e os conservadores moderados". "Isso pode encorajar as alas mais radicais e ampliar as dificuldades para os próximos dois anos de governo", diz a professora da ESPM.
Edição: Arturo Hartmann