Crise

Exigindo novas eleições, organizações sociais reiniciam protestos no Peru

Mobilizações retomam movimento iniciado após a destituição de Pedro Castillo e reclamam mortos durante atos

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A presidenta do Peru, Dina Boluarte - Cris Bourncle / AFP

Diversas organizações sociais, sindicais e movimentos em favor de indígenas e camponeses do Peru iniciarão nesta quarta-feira (04/01) uma nova onda de manifestações contra o governo da presidente peruana Dina Boluarte.

A mobilização de todas essas entidades tem três demandas em comum, sendo a principal delas a realização de novas eleições no país ainda no primeiro semestre de 2023, como forma de solucionar a crise política que se instalou no país desde a destituição de Pedro Castillo, em dezembro.

Outras reivindicações importantes são a realização de uma assembleia constituinte no país, para substituir a atual carta magna imposta em 1993 pelo então ditador Alberto Fujimori, e uma investigação para apurar as responsabilidades políticas sobre as 22 mortes de manifestantes ocorridas durante os protestos de dezembro.

As entidades que aderiram à mobilização formam parte da Coordenadoria das Organizações Políticas de Esquerda e Progressistas (COIP) e da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP).

Ambos os organismos afirmam que a paralização desta quarta é uma continuação do movimento iniciado em dezembro, que foi interrompido devido às festas de fim de ano, sendo retomadas agora. Por isso reiteram que as mortes causadas pela repressão policial aos atos anteriores são consideradas perdas do mesmo movimento.


Protesto popular em Ayacucho, no Peru, pelo ex-presidente Castillo, em 17 de dezembro / Javier Aldemar / AFP

A jornada tem protestos programados em ao menos oito departamentos do interior do Peru: Apurímac, Arequipa, Ayachucho, Cajamarca, Cusco, Madre de Dios, Moquegua e Puno. Também estão marcados vários na região metropolitana de Lima, capital do país. A principal delas acontecerá na Praça 2 de Maio, no centro histórico da cidade.

Contexto

A crise política no Peru foi iniciada no primeiro dia de dezembro, com o pedido de moção de vacância do então presidente Pedro Castillo. O processo é similar ao impeachment no Brasil, e Castillo tinha uma semana para se defender.

No dia 7 de dezembro, quando o Congresso iria votar a destituição ou não do presidente, o próprio Castillo se adiantou e tentou impor um decreto para dissolver o Legislativo e instaurar um governo de exceção no país.

A medida não foi acatada pelas demais instituições, e não impediu a votação do processo contra o mandatário, que terminou com 101 votos a favor do seu afastamento do poder.

Aquela jornada ainda terminaria com Castillo sendo detido pela Polícia Nacional peruana, sob a acusação de atentar contra a ordem democrática.

A vice-presidente Dina Boluarte assumiu o cargo após a destituição de Castillo. Em sua primeira declaração, disse que pretendia se manter no poder até o final do atual mandato, em julho de 2026.

Porém, a partir do dia 10 de dezembro, as organizações sociais do Peru iniciaram uma onda de protestos exigindo que a crise política fosse solucionada através de uma antecipação do calendário eleitoral, e que o pleito presidencial fosse realizado no primeiro semestre deste ano de 2023.

A pressão social fez Boluarte recuar e apresentar um projeto que antecipa as eleições gerais (para presidente e todos os deputados do congresso unicameral do Peru) para abril de 2024. A proposta não agradou as entidades, que se mantiveram mobilizadas.

Outra coisa que não freou o ímpeto das mobilizações foi a extrema violência que o governo de Boluarte tem acionado para tentar conter os protestos. Segundo a Coordenadora Nacional de Direitos Humanos do Peru (CNDDHH), ao menos 22 pessoas foram mortas por ação da polícia durante os atos.

A presidente Boluarte reconhece as mortes produzidas nas manifestações, mas culpa as organizações pela “violência extremista”, alegando que essa é a razão pela qual a polícia “é obrigada a agir com mais rigor”. A mandatária também decretou Estado de emergência em todo o país, medida que inclui toque de recolher nas cidades onde as manifestações têm sido mais numerosas.

(*) Com informações de TeleSUR