O Congresso peruano aprovou, na noite de terça-feira (20), antecipar as eleições gerais de 2026 para abril de 2024. Como se trata de uma reforma constitucional, o projeto de lei ainda precisa em uma nova rodada de votação para ser implementado de fato. A medida é uma tentativa de acalmar o país após dias de greves, protestos e mobilizações que já resultaram em mais de duas dezenas de mortos.
A proposta precisava de 87 votos para ser aprovada e acabou tendo 93 votos favoráveis, 30 contrários e uma abstenção.
Partidos de esquerda, como o Peru Livre, defendiam a realização das eleições em abril de 2023 e a realização de uma Assembleia Constitucional para reformular a Carta Magna do país. A mudança da Constituição do país era uma das bandeiras do presidente Pedro Castillo.
O Peru aprofundou sua crise política após o então presidente Castillo tentar dissolver o Congresso momentos antes da votação de um pedido de impeachment contra seu governo. Castillo terminou afastado e preso, e a atual presidenta é Dina Boluarte, sua vice.
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Movimentos populares exigem a liberdade para Castillo e fazem uma vigília nas proximidades da prisão de Barbadillo, onde o ex-presidente está detido. Castillo está preso desde 7 de dezembro e, na semana passada, ele foi sentenciado à prisão preventiva por 18 meses.
"Você provavelmente está se perguntando quem me pagou para estar aqui", disse um homem de 40 anos que integra a vigília por Castillo ao Peoples Dispatch. "Bem, ninguém me pagou para estar aqui. Estamos fazendo isso porque nossos corações estão com a pátria, porque quero que meu Peru mude, porque um governo que estava tentando fazer isso foi derrubado injustamente”.
De acordo com o jornal El Comercio, a próxima votação para a antecipação da eleição acontecerá após a posse da próxima legislatura, no dia 15 de março.
Asilo no México e expulsão de embaixador
O México decidiu ofertar asilo político à família de Castillo e o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, vem defendendo o líder deposto, a quem chamou de "presidente" mesmo após sua destituição.
"Temos as portas do México abertas para Pedro Castillo, para sua família e para todos aqueles que se sentem molestados ou perseguidos no Peru. Essa é a nossa tradição de política externa", disse Obrador na segunda-feira (19).
As manifestações mexicanas não alegraram as atuais autoridades do Peru. Na terça-feira (20), o Ministério das Relações Exteriores do Peru declarou o embaixador do México no país, Pablo Monroy Conesa, persona non-grata e ordenou que ele deixasse o país dentro de três dias.
"Esta decisão foi tomada em resposta a repetidas declarações do presidente dos Estados Unidos Mexicanos, Andrés Manuel López Obrador, sobre a situação política no Peru, o que constitui uma interferência inaceitável nos assuntos internos", afirmou a chancelaria peruana em nota.
Ainda que pretenda manter o ex-presidente no país, o governo que tomou o poder no Peru anunciou que fornecerá um salvo-conduto para que a família de Castillo deixe o país para que possa ir ao México.
Edição: Arturo Hartmann