A Petrobras anunciou na segunda-feira (19) que encerrou as negociações com a empresa norueguesa Yara para venda da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras no Paraná (Fafen-PR). Com a decisão, a privatização da fábrica passará a depender de decisão de gestores da estatal que serão indicados pelo presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já afirmou ser contra a venda de ativos da Petrobras.
A Fafen-PR foi fechada em março de 2020, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e sob protesto de seus trabalhadores.
A fábrica era responsável pela produção de 30% da ureia e amônia consumidas no Brasil e de 65% do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32), aditivo para veículos de grande porte que atua na redução de emissões atmosféricas.
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O fechamento ocorreu justamente por conta dos planos de venda da Fafen-PR e outras plantas estatais. Ao todo, durante os governos de Bolsonaro e de Michel Temer (MDB), a Petrobras fechou três fábricas de fertilizantes.
As decisões aumentaram a dependência do Brasil em relação aos adubos vindos da Rússia, justamente durante o período que o país entrou em guerra contra a Ucrânia.
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Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) tabulados pela consultoria StoneX indicavam que, ainda em 2020, cerca de 84% dos fertilizantes usados por agricultores brasileiros já eram importados. Esse percentual de importação já era o maior já registrado em mais de 20 anos e apresentava tendência de alta.
Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), comemorou o encerramento do processo de venda. "Dependemos da importação de fertilizantes que antes a Petrobras produzia em Sergipe, Bahia e Paraná, da mesma forma que a privatização e subutilização de nossas refinarias vêm tornando o país dependente da importação de derivados do petróleo."
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Bacelar observou que o consumidor e o mercado interno perceberam que privatizar setores estratégicos do Estado tem impacto direto na soberania nacional. "Perdemos ativos importantes no governo Bolsonaro, agora precisamos reconstruir o que foi destruído", disse.
A Petrobras não informou o motivo do cancelamento da negociação. Declarou que "avaliará seus próximos passos relacionados ao desinvestimento do ativo em questão e reforça o seu compromisso com a ampla transparência de seus projetos de desinvestimento e de gestão de portfólio".
Edição: Nicolau Soares