Tem muitos relatos de pessoas que estão doentes por estarem contaminadas pelo mercúrio
O Radinho BdF viajou até comunidades ribeirinhas do Rio Tapajós, no Pará, para investigar fatos misteriosos que andam ocorrendo por lá. Crianças de diferentes locais têm ouvido assobios em lugares onde não há ninguém e encontrado pegadas estranhas no meio da mata. Elas observam as árvores balançando sem vento e animais cada vez mais agitados...
Contam os mais velhos que a Floresta Amazônica é habitada por muitas criaturas que não são nem gente, nem bicho, nem planta. Com tantas histórias, as crianças do Tapajós têm um palpite quente para explicar os mistérios da região. “Quem faz isso é um menino com cabelos de fogo e pés virados para trás, o Curupira. Ele protege a floresta”, conta Eduarda, que tem 8 anos e mora em uma comunidade do Tapajós.
E é exatamente por ser um protetor da natureza, que ele tem aparecido tanto por lá: a Bacia do Tapajós é a região brasileira que mais concentra garimpos ilegais de ouro no país, em especial nos municípios de Itaituba (PA) e Jacareacanga (PA), segundo relatório do MapBiomas, lançado em setembro deste ano.
:: Infância minada: garimpos ilegais de ouro no Tapajós adoecem crianças ribeirinhas ::
Essa prática, que muitas vezes ocorrer em áreas onde são proíbas, como terras indígenas e áreas de proteção ambiental, causa intensos desmatamento, erosão do solo e poluição de rios com metais pesados. Além disso, também é responsável pelo aumento da violência na região.
“Os garimpeiros ilegais trazem máquinas enormes para explorar o ouro que está na nossa reserva. Eles abrem buracos muito grandes, derrubam a floresta e contaminam as águas dos rios com mercúrio”, diz Pedro, de 13 nos, que mora em uma comunidade ribeirinha. “Tem muitos relatos de pessoas que estão doentes por estarem contaminadas pelo mercúrio despejado nos rios. Ele contamina os peixes e as pessoas que comem peixe.”
Problemas de saúde
Os mais vulneráveis aos problemas do garimpo ilegal são as crianças. Já pensou o que é ver o lugar onde você e sua família mora ser destruído? Ou ver seus amigos ficando doentes por conta da poluição dos rios? Ou ainda ver desentendimentos entre os moradores da sua comunidade por conta dos garimpos de ouro? É assim que tem vivido as crianças do Tapajós.
“Os garimpeiros são ambiciosos por ouro. Eles derrubam muito barro dentro dos rios, as águas ficam poluídas e nem os animais conseguem mais beber a água porque ela ficou suja”, resume Cristina. “Nosso rio tinha a água bem clarinha e agora está barrenta”.
:: Crianças indígenas defendem demarcação de terra e autonomia sobre territórios ::
Na busca pelo ouro, os garimpeiros lançam no Tapajós grandes quantidades de uma substância chamada mercúrio, que é usada para juntar pedaços pequenos de ouro em uma barra maior. Este mercúrio contamina os peixes e as pessoas que comem os peixes - o principal alimento dos meninos e meninas do Tapajós.
No corpo humano, o mercúrio pode causar diversos problemas de saúde principalmente em crianças e bebês, mesmo que eles ainda estão na barriga da mãe. Entre os sintomas de exposição estão fraquezas, tonturas, problemas de visão, dores de cabeça, tremedeira e atrasos no crescimento e na aprendizagem dos meninos e meninas.
Novos caminhos
Um dos povos mais afetados pelos problemas do garimpo são os indígenas do povo Munduruku. Há dois anos duzentas pessoas da terra indígena que ocupam foram testadas para mercúrio, em uma pesquisa da Fundação Osvaldo Crus (Fiocruz) e da organização não governamental WWF-Brasil. Os resultados foram aterradores: todas as pessoas, adultos e crianças, tinham concentrações de mercúrio no corpo, em muitos casos acima do limite considerado seguro por agências de saúde.
Neste cenário urgente, as crianças do Tapajós são convidadas a pensar em soluções para o problema, com adultos das comunidades e especialistas no tema. Nas conversas, fica claro que é urgente uma ação do governo e do sistema de Justiça, que integre policiamento, mas também programas de geração de emprego e renda, educação e promoção de saúde.
:: Radinho BdF promove ‘Conferência do Clima das Crianças’ e discute preservação do meio ambiente ::
“Se eu fosse o presidente do Brasil eu ia proteger a nossas árvores, os animais, as árvores e o nosso rio. Não ia deixar ninguém fazer mal para eles, porque nós precisamos da nossa floresta para viver”, conclui Pedro.
Brincadeira, histórias e músicas
Além de colocar a imaginação para funcionar com os “encantados da floresta” que acompanham a investigação, as crianças também são convidadas a conhecer uma lenda Munduruku que conta a origem desse povo tão forte e valente. A história tradicional foi registrada pelo autor indígena Daniel Munduruku e contada pelo arte-educador Victor Cantagesso.
A Vitrolinha BdF põe som na caixa com “Amazônia”, do Palavra Cantada, “Curumim Chama Cunhatã”, do Jorge Ben Jor e “Uma Palavra Bas”, da Mariana Aydar. De quebra, as crianças ainda conhecem brincadeiras tradicionais do oeste do Pará, que podem ser adaptadas para todas as regiões do país.
Sintonize
O programa Radinho BdF vai ao ar às quartas-feiras, das 9h às 9h30, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista. A edição também é transmitida na Rádio Brasil de Fato, às 9h, que pode ser ouvida no site do BdF.
Em diferentes dias e horários, o programa também é transmitido na Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), e na Rádio Terra HD 95,3 FM.
Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o Radinho BdF de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da lista de distribuição, entre em contato pelo e-mail: [email protected].
Edição: Sarah Fernandes