APAGAR DAS LUZES

Bolsonaro acelera entrega de terras da União para grileiros no MT, denunciam entidades

Conciliação judicial conduzida por juíza bolsonarista ameaça famílias que aguardam há 20 anos para serem assentadas

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |
Acampamento Renascer (MT): área é disputada por grileiros e passa por processo de conciliação judicial - Reprodução/MST

Na reta final do mandato, o governo de Jair Bolsonaro (PL) acelerou a regularização de terras públicas da União griladas no norte do Mato Grosso, no bioma Amazônia. A manobra beneficia grileiros e contraria um relatório do Incra que indicou a área para a reforma agrária

As áreas griladas equivalem ao tamanho de 9 mil campos de futebol e ficam na Gleba Gama, no município de Nova Guarita (MT), região marcada por conflitos agrários. Famílias do acampamento Renascer aguardam há quase duas décadas para serem assentadas no local. 

A denúncia está em uma carta assinada por mais de 50 organizações sociais, populares e socioambientais, além de partidos e políticos do campo progressista. Os signatários afirmam que a manobra é ilegal e exigem que os trâmites jurídicos sejam paralisados.

Juíza responsável pelo caso apoia protestos golpistas 

A conciliação judicial tramita com agilidade e é conduzida pelo Advogado-Geral da União, Bruno Bianco, a Procuradora-Chefe do Incra, Renata Silva Pires de Carvalho, e a juíza da Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Maria do Carmo Cardoso.

"Chama atenção o fato do Advogado-Geral da União participar de audiência de um processo que não possui, em tese, nenhuma relevância para a atuação da União", ressaltam as entidades.

Segundo o jornal Correio Braziliense, a juíza do TRF-1 manifestou apoio a protestos golpistas contra o resultado das eleições de 2022. Ela também já emitiu uma decisão favorável a grileiros que travou o assentamento de 200 famílias na região da Usina Pantanal/Gleba Mestre, sul do Mato Grosso.


Postagem da juíza federal Maria do Carmo Cardoso, do TRF-1 / Reprodução/Redes sociais

"O Incra e a União, com a conivência do Judiciário, estão passando por cima do que determina a legislação vigente, numa tentativa absurda e infundada de legalizar a grilagem de terras que pertencem ao povo brasileiro", diz a denúncia das entidades. 

Entre os signatários da carta estão o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Fórum Matro-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad-MT). 

O Brasil de Fato procurou o Incra, a AGU e o TRF-1. Caso haja respostas, os texto será atualizado. 

Conciliação com grileiros tramita com agilidade 

Os grileiros participaram de uma audiência no Núcleo Central de Conciliação do TRF-1 no dia 28 de novembro. Entre o protocolo da proposta de acordo até a audiência passaram-se cinco dias. "Causa estranheza a agilidade na tramitação dos processos deste acordo", afirmam as entidades. 

"Afirmamos a responsabilidade do Judiciário na pessoa da Des. Maria do Carmo, Coordenadora do Núcleo Central de Conciliação do TRF1, bem como do Advogado-Geral da União, Ministro Bruno Bianco Leal e do INCRA, pela perpetuação e legalização da grilagem de terras públicas em MT e a consequente violação dos direitos das famílias que vivem acampadas há quase 20 anos aguardando uma resposta do judiciário para serem assentadas nestas áreas", enfatizam os movimentos.  

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Uma nova audiência de conciliação entre grileiros da Gleba Gama e União foi marcada para 15 de dezembro. Segundo denúncia, o Ministério Público Federal (MPF) não foi intimado de nenhum ato nos processos, após a apresentação da proposta de acordo pelos grileiros.

"Exigimos a imediata paralisação de todos os processos judiciais e administrativos que visem a realização de acordos em áreas situadas na Gleba Gama, sob pena de violação ao disposto na Constituição Federal e ao disposto na Lei nº. 11.952/2009, que vedam a regularização fundiária de terras públicas necessárias para a concretização da Política Pública de Reforma Agrária, bem como a responsabilização civil e criminal por tais atos", finaliza a carta-denúncia. 

Edição: Thalita Pires