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Não sai nos jornais

Desde início da Copa, operações policiais são responsáveis por quase metade dos tiroteios no RJ

Política de confronto promovida pelo governo estadual foi intensificada após período eleitoral, segundo Fogo Cruzado

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
No dia 25 de novembro, ocorreram operações no Morro do Juramento, no Complexo da Maré e no Morro do Estado
No dia 25 de novembro, ocorreram operações no Morro do Juramento, no Complexo da Maré e no Morro do Estado - Carl de Souza/ AFP

Para quem mora nas favelas do Rio de Janeiro, o medo de tiroteios e mortes durante operações policiais faz parte do cotidiano. No entanto, o cenário tem se agravado no último mês com o aceleramento da política de confronto promovida pelo governo estadual. De acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado, somente no período pós-eleição, desde o dia 31 de outubro até 29 de novembro, houve 111 tiroteios em ações policiais, resultando em 49 mortos e 75 feridos em todo o estado.

Atualmente, quase metade dos tiroteios no Rio acontece durante operações promovidas pelas forças de segurança do Estado, segundo a doutora em sociologia e diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, Maria Isabel Couto.

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“A média histórica [de tiroteios] era de 27%, a situação no último mês foi de 42%. Quando a gente pega os dados só do período da Copa é ainda maior: 47% dos tiroteios que aconteceram nas últimas semanas foram em operações policiais, quase a metade. Isso mostra para a gente que o número de tiroteios em ações e operações policiais está aumentando mais rápido do que os que não acontecem em operações policiais. A política de confronto por parte do estado está acelerando”, explica.

No dia 25 de novembro, três operações policiais aconteceram no estado do Rio de Janeiro. No Morro do Juramento, na zona norte da capital, no Complexo da Maré, também na zona norte da cidade, e no Morro do Estado, em Niterói, na região metropolitana

Maria Izabel conta em entrevista ao programa Central do Brasil, uma parceria do Brasil de Fato com a rede TVT, que “a média histórica de chacinas no Rio de Janeiro é de quatro por mês, três delas em ações e operações policiais”.

“Em um único dia as forças de segurança do estado do Rio foram responsáveis pelo que acontece historicamente em um mês inteiro. É preciso que o governador reeleito cumpra a decisão do STF de elaborar e implementar um plano de redução da letalidade policial no Rio de Janeiro”, constata a socióloga.

Já o coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), Daniel Hirata, afirma que nas últimas semanas não houve cobertura da grande mídia compatível com a brutalidade das recentes operações policiais.

“A Copa do Mundo acaba encobrindo essas notícias, infelizmente. Por outro lado, não me parece que o governo do estado do Rio precisa de muita cobertura para produzir mortes, sobretudo da juventude negra, favelada e periférica do Rio de Janeiro”, diz Hirata.

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Para Daniel, as chacinas no estado do Rio de Janeiro, sobretudo na região metropolitana, ocorrem muito mais em ações e operações policiais do que em confrontos de grupos armados.

“No ano passado, tivemos 36% do total das mortes na região metropolitana do Rio de Janeiro feitas pelas polícias, é um número muito grande se a gente for pensar que a média brasileira é de 12% e os parâmetros internacionais indicam que acima de 10% há claros indícios de abuso do uso da força oficial. Então, acima de 10% há abuso do uso da força, o Brasil está em 12, a região metropolitana do Rio de Janeiro em 36, três vezes mais a média nacional, que já está acima dos parâmetros internacionais”, finaliza.

Para o Brasil de Fato, a Secretaria de Estado da Polícia Militar informou que “as forças de segurança do governo estadual atuam de forma integrada com base em informações de suas áreas de inteligência e dentro das determinações legais, tendo como foco a redução dos indicadores criminais”. Além disso, disse também que “o sucesso dessa estratégia tem sido demonstrado mês a mês com a divulgação dos números do Instituto de Segurança Pública”.

Edição: Mariana Pitasse