Zico, Falcão e Sócrates eram unanimidades entre os torcedores
Ufa! Parecia que a seleção brasileira voltava a jogar bem e bonito, mas foi só no primeiro tempo. No segundo tempo jogou pior do que a Coreia do Sul, um time fraco. Ganhou, mas será que vai continuar ganhando? Vamos ver contra a Croácia. E torcer!
Desde 2006, quando a seleção passou a ser composta por uma espécie de legião estrangeira, quase todo mundo jogando fora do Brasil, ela passou a nos decepcionar a cada Copa.
Que saudade de seleções de outros tempos! As mais lembradas são as campeãs de 1958 e de 1970, mas outra que encantou o mundo, jogou bonito... só que não ganhou, foi a de 1982, na Espanha.
Na fase de grupos, cada jogo era um show. Foi 4 a 1 contra a Escócia, 4 a 1 contra a Nova Zelândia e 3 a 1 contra a Argentina.
O técnico era Telê Santana, que gostava do futebol bem jogado. E tinha craques como Sócrates, Falcão e Zico.
Ah... mas tinha também uns jogadores que a gente não gostava. Ninguém de nós confiava no goleiro Valdir Peres. Quando atrasavam uma bola pra ele, virava uma gritaria entre nós: "Não faz isso que ele engole um frango". Tinha torcedor a favor e contra alguns jogadores específicos. Zico, Falcão e Sócrates eram unanimidades. Tinha um que era fanático pelo Toninho Cerezzo, e muitos não gostavam do centroavante Serginho Chulapa. Mas terminava tudo em festa, sempre.
Eu morava numa república na Vila Madalena, em São Paulo, e no primeiro jogo éramos umas 15 pessoas assistindo ao jogo. No segundo jogo já éramos quase 30, no terceiro, mais de 40.
Bom... Aí veio a fase do mata-mata, contra a Itália. Todos confiávamos numa bela vitória, menos um morador da república, que era italiano, Domenico. Ele apostou uma caixa de cerveja na Itália, com o Marinho, que veio da Zona Leste para ver o jogo com a gente, confiando na festa.
Um amigo preparou feijoada para sessenta pessoas! A casa estava lotada.
E o Brasil perdeu... 3 a 2. Tristeza geral.
Ninguém quis comer a feijoada, e tivemos que procurar a quem doar.
O Domenico ganhou a aposta feita com o Marinho, mas não levou: o perdedor foi a uma padaria próxima, comprou uma caixa de cerveja e colocou tudo na geladeira. Sentou ao lado da geladeira, à noite, choroso, e foi bebendo uma a uma as cervejas que ele comprou pra pagar a aposta.
De manhã, ele cochilava na cadeira, rodeado por 24 garrafas vazias.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Nicolau Soares