Sobrou até pro Tite fazer a 'dancinha do Pombo' numa das cenas mais engraçadas dessa Copa do Mundo

*Luiz Ferreira

Devo confessar aos amigos que eu estava um pouco pessimista para o jogo contra a Coreia do Sul. Talvez o erro tenha sido meu. Vi, ouvi e li muita coisa sobre a Seleção Brasileira após a derrota para Camarões. E é bem possível que eu tenha me deixado contaminar pelos comentaristas que analisam o velho e rude esporte bretão com o fígado ao invés do cérebro.

Pois bem… O Brasil fez a sua melhor partida nessa Copa do Mundo até o momento. Não somente pela goelada em cima dos coreanos e pela apresentação de gala no primeiro tempo da partida no Estádio 974. Mas pela forma como os comandados de Tite assimilaram as atuações mais abaixo do esperado e acertaram o pé nesta segunda-feira (5).

'Pô, Luiz… A Coreia do Sul é fraquíssima né? Era obrigação do Brasil passar o carro. E ainda saiu barato hein'.

De fato, o time comandado pelo português Paulo Bento competiu pouco e errou muito. Mas pensem que falta de qualidade dos “Tigres da Ásia”. Lembrem-se de que a Coreia do Sul fez jogos duros contra Uruguai e Gana e conquistou sua classificação para as oitavas com uma virada épica sobre Portugal. E vamos combinar que não tem mais bobo no futebol né, minha gente? Alemanha e Bélgica que o digam…

Mas se a Coreia do Sul fez uma partida bem abaixo do que eu e mais alguns esperavam, muito disso se deve à ótima atuação coletiva da Seleção Brasileira. Com Danilo e Éder Militão nas laterais, Lucas Paquetá formando dupla de volantes com Casemiro e Neymar de volta ao time, o Brasil fez um primeiro tempo de cinema no Estádio 974. Triangulações, ótimas trocas de passe, boas tomadas de decisão e o principal: gols.

O Brasil foi bem porque soube criar o espaço na defesa adversária. Thiago Silva e Marquinhos quase escreveram um livro sobre como um zagueiro deve se comportar num jogo de alto nível. Casemiro acertou tudo (de novo). Lucas Paquetá fez sua melhor partida na Copa do Mundo e ajudou a colocar Raphinha no jogo. Neymar distribuiu ótimos passes como camisa 10 de fato e de direito. Vinícius Júnior foi impecável pela esquerda com ótimas arrancadas e Richarlison este implacável na pressão pós-perda e ainda marcou mais um belíssimo gol.

Esse foi o terceiro do camisa 9 do Catar. E sobrou até pro Tite fazer a “dancinha do Pombo” numa das cenas mais engraçadas e bacanas dessa Copa do Mundo até o momento.

Futebol também é alegria, pessoal! E tem que bailar mesmo! Principalmente na cara dos que enxergam problema em tudo!

Talvez a grande notícia da vitória desta segunda-feira (5) tenha sido a forma como todo o time assimilou as críticas que vieram de todos os lados por conta da derrota para Camarões. Sim, pessoal. Você leu aqui mesmo neste espaço numa outra oportunidade que Tite havia errado sim e que, mesmo com todos os problemas, o Brasil amassou os “Leões Indomáveis”. Faltou é colocar a bola na “casinha”. Problema que não foi notado contra a Coreia do Sul.

Fora isso, vimos os “comentaristas de resultado” aparecerem do nada com análises feitas na base do ódio e do gosto pessoal e criticar a escalação dos reservas num jogo que valia pouca coisa diante do que realmente está em jogo.

Como falei antes, cometi um erro grave ao mergulhar sobre esse tipo de críticas sem fundamento. Não se repetirá mais (espero eu).

Além disso, a Seleção Brasileira mostrou que estava focada e concentrada no plano de jogo de Tite.

Neymar e Lucas Paquetá baixavam para receber a bola da linha de defesa e ajudavam a abrir espaços no campo adversário. Foi assim que Raphinha iniciou a jogada do gol de Vinícius Júnior. A pressão pós perda encaixou e resultou na penalidade sofrida por Richarlison (que Neymar converteu com categoria) e no golaço do “Pombo” após jogada lindíssima envolvendo o camisa 9 e os zagueiros Thiago Silva e Marquinhos.

Aliás, vocês já notaram que baita Copa do Mundo nossa dupla de zaga está fazendo? Principalmente o nosso capitão. Amigo, 38 anos de pura classe com e sem a bola. Um monstro na nossa defesa.

E o que falar do cruzamento de Vinícius Júnior para Lucas Paquetá no meio da área no lance do quarto gol? Coisa de cinema, senhores.

Fato é que o Brasil se juntou a França, Inglaterra, Holanda e Argentina no seleto grupo das seleções que fizeram valer seu favoritismo nas oitavas de final. E também fez o que se esperava quando um time muito forte enfrenta um mais (teoricamente) mais fraco.

Goleada que dá sim confiança para a sequência da Copa do Mundo.

Mas é bom lembrar que o adversário dos comandados de Tite nas quartas de final da Copa do Mundo será muito (mas muito) mais complicado do que a Coreia do Sul.

Estamos falando da Croácia, meu amigo. Time experiente e atual vice-campeão mundial. Modric, Perisic, Brozovic e mais uma porção de jogadores talentosos e que podem decidir uma partida num piscar de olhos.

É a hora de comemorar sim a vitória. Mas a humildade e a seriedade precisam ser mantidas. Até para que o Brasil não volte para casa sem o nosso tão sonhado hexa. Vamos por mais!

*Luiz Ferreira escreve toda semana para a coluna Papo Esportivo do Brasil de Fato RJ sobre os bastidores do mundo dos atletas, das competições e dos principais clubes de futebol. Luiz é produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista e grande amante de esportes.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Mariana Pitasse