O governo Ratinho Junior (PSD) conseguiu aprovar, em menos de uma semana, na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), a venda de mais da metade das ações da Copel pertencentes ao estado, e com isso entregará o controle acionário da empresa de energia paranaense.
Para o presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge), Leandro Grasmann, a venda das ações privatiza de vez a empresa com a perda do controle acionário.
Grasmann conversou com a reportagem do Brasil de Fato Paraná e afirmou que “não há como garantir que as tarifas permaneçam no atual patamar”, e que o emprego dos trabalhadores copelianos também não está garantido.
Confira a entrevista:
Brasil de Fato Paraná – Qual o impacto da venda de ações da Copel na gestão da empresa? O governo do Paraná diz que não se trata de uma privatização, pois ainda manteria ações. Qual sua avaliação desse processo?
Leandro Grasmman – O governo diz que não se trata de uma privatização pelo fato de o Governo ainda manter ações da empresa. Mas privatizar não significa ter um único “dono”. Vender ações para o “mercado”, diluindo o controle acionário, é uma forma de privatizar. Com a quantidade de ações que o governo manterá, segundo o modelo aprovado, não deterá mais o controle acionário. O controle passará a ser do CAD e das assembleias de acionistas. E como a maioria do capital será de terceiros (empresas, fundos de pensão, investidores), é uma decisão de cunho privado sim.
A venda dessas ações impactará no valor das tarifas de energia? Qual será o impacto para consumidores e empresas?
De imediato, nada muda. A definição de tarifas é de responsabilidade da Aneel. Esse é o principal argumento do governo e dos que defendem a privatização para afirmar que nada mudará. Mas, no médio ou longo prazos, não há como garantir que as tarifas permaneçam no atual patamar. A revisão tarifária é baseada em custos da empresa e investimentos com melhorias e obras. Isso pode mudar o cálculo da tarifa. Bom lembrar também que as tarifas mais caras do Brasil são praticadas por empresas privadas.
A Copel anunciou tempos atrás que tinha dado lucro histórico e repartiu com acionistas. O valor da venda das ações planejado seria equivalente ao lucro anual. O valor planejado dessa venda é justo? Houve especulação financeira?
Este talvez seja o principal ponto que, no nosso entender, não justifica a venda de ações. O governo detém 69,7% das ações da Copel. Grosso modo, 2/3 do lucro vai para os cofres do estado. Se pegarmos o lucro do ano passado (R$ 3bi), o governo recebeu perto de R$ 2 bilhões. Se tivesse mantido 15% das ações, receberia perto de R$ 450 milhões.
Ou seja, em menos de três anos a conta se equilibraria para o governo sem vender. Quanto à especulação financeira, não há como comprovar nada com os dados públicos disponíveis, vez que não chegam ao detalhe de quem comprou ou vendeu ações. Mas é estranho que, às vésperas do anúncio de venda, o volume de negociação seja mais do que o dobro da média. A CVM já foi notificada e cabe a ela investigar eventual vazamento de informação privilegiada.
Como ficam os trabalhadores e o corpo técnico da empresa com a privatização. Há possibilidade de corte de funcionários? Como ficaria os concursados e engenheiros da empresa com o controle acionário privado?
Corpo técnico e empregados foram pegos de surpresa. Nada está garantido. Não há qualquer garantia de emprego no momento. Estamos no meio do processo de acordo coletivo. A empresa fez uma proposta de manutenção de 65% do quadro em até 5 anos após a venda. Mas foi rejeitada pelos empregados – 88,6% votaram, e 94% destes recusaram.
A expectativa é que melhore essa garantia. Bom lembrar que a CEB (empresa de Brasília) demitiu empregados em massa, imediatamente após a garantia de estabilidade terminar. É justamente essa a nossa preocupação - a empresa garantir poucos empregos e eliminá-los logo após o fim da garantia.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini