Faltando pouco mais de um mês para a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), crescem os rumores de que o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), deve ocupar o cargo de ministro da Fazenda do novo governo.
Haddad é advogado formado pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é professor de Ciência Política na mesma instituição. Também na USP, concluiu um mestrado em Economia em 1990. Além disso, acumula experiências como consultor, que lhe servem como credenciais para que possa ocupar a chefia da área econômica do governo.
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Haddad ingressou no mestrado em Economia em 1987, dois anos depois de se formar em Direito. Para ser admitido, precisou ser aprovado no exame da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec), que afere conhecimentos econômicos dos postulantes a vagas em cursos nas principais universidades brasileiras.
Durante um debate em 2017, aliás, Haddad fez piada com sua aprovação na Anpec e a conclusão de seu mestrado. Afirmou, em tom de brincadeira, que estudou "dois meses" para o exame e “colou” de colegas em provas para concluir a pós-graduação.
"Apesar de eu dar uns pitacos na economia de vez em quando, eu estudei dois meses de economia para passar no exame da Anpec. Depois não estudei mais. Porque eu colava um pouco do Alexandre Schwartsman e do Naércio Menezes para passar", brincou.
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Schwartsman, ouvido pela Folha de S.Paulo na época, reforçou que o comentário era uma piada. "Não é verdade que ele não sabe nada de economia", disse. "A cola não rolou."
Trabalhos na área
Com o mestrado concluído, Haddad trabalhou no ramo da construção e incorporação. Depois, foi analista de investimentos do Unibanco e consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), onde foi o responsável pela elaboração da chamada Tabela Fipe, em 1998. A tabela serve hoje como a principal referência para o mercado de carros usados no país.
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Naquela época, ele já havia concluído seu doutorado em Filosofia na USP, em 1996, e sido aprovado no concurso de professor na universidade no ano seguinte.
Cargos no governo
Em 2001, Haddad virou subsecretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico do município de São Paulo, no início da gestão da prefeita Marta Suplicy. Em 2003, ingressou no governo do então recém-empossado presidente Lula como assessor do Ministério do Planejamento, encarregado de formatar a Lei de Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Haddad, inclusive, diz ser pessoalmente favorável a PPPs. Em sua campanha ao governo de São Paulo, afirmou algumas vezes que o Programa Universidade para Todos (Prouni), criado quando ele já era ministro da Educação, é a maior PPP do país.
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Por meio do programa, universidades privadas concedem bolsas de estudos a estudantes de baixa renda em troca de isenções de impostos federais.
Haddad foi ministro da Educação de 2005 a 2012. Esteve no cargo durante os dois mandatos de Lula e também no governo de Dilma Rousseff (PT).
Em 2012, foi eleito prefeito de São Paulo. Em 2018, virou candidato a presidente da República após Lula ter sua candidatura cassada –perdeu a eleição para Jair Bolsonaro (PL). Em 2022, foi candidato a governador de São Paulo, foi para o segundo turno e perdeu para Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro do governo Bolsonaro.
Política e gestão
O economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que Haddad tem conhecimento necessário para assumir o Ministério da Fazenda e, mais do que isso, está comprometido com as pautas urgentes do novo governo.
"O que está em jogo agora é capacidade política de aprovar projetos que sejam do interesse da população, e é indiscutível que o Haddad tem uma competência enorme", afirmou. "Apesar de não ser economista de formação, ele tem um profundo entendimento de Economia. Entende os dramas que nos envolvem."
Roncaglia destacou também a experiência de Haddad como gestor público, principalmente à frente do Ministério da Educação. "Ele geriu um dos ministérios mais complexos e teve um desempenho excelente", concluiu.
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Daniel Negreiros Conceição, economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também considera a experiência e a formação de mais do que suficientes para o cargo na Fazenda. Ele, contudo, não acredita que o professor seja um bom nome para o ministério pois não agrada representantes do mercado financeiro mesmo estando parcialmente comprometido com uma política de gastos públicos que, em tese, os atende.
"Haddad não agrada os participantes do mercado financeiro, que seguirão patrocinando o discurso terrorista de que sem controle do endividamento público não é possível haver crescimento e estabilidade macroeconômica, mas também não possui um entendimento moderno o suficiente sobre a economia que reconheça que o governo federal não precisa e não deve buscar o equilíbrio fiscal como um fim em si mesmo", ponderou.
Simone Deos, professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), diz que a eventual escolha de Haddad para a Fazenda é política. "A visão de Economia de um eventual ministério de Haddad terá de ser indicada pelos seus assessores, pelos economistas que ele trará para compor a equipe dele", afirmou.
Edição: Glauco Faria