Uma intensa articulação política divulgou no Brasil uma campanha internacional que pede a libertação do jornalista Julian Assange, fundador do Wikileaks. Ao longo desta semana, a comitiva do Wikileaks recebeu o apoio do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, participou de evento na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e realizou encontros com artistas, movimentos populares e partidos políticos.
A intenção da delegação é reunir adesões para pressionar o governo do presidente dos Estados Unidos (EUA) Joe Biden e o Departamento de Justiça a anular as acusações de espionagem e encerrar o processo de extradição do jornalista australiano.
Assange foi responsável por publicar, entre 2010 e 2011, documentos dos EUA que revelam crimes de guerra e campos de tortura no Iraque, Afeganistão e na base de Guantánamo, território estadunidense em Cuba. Caso seja extraditado, Assange poderá ser condenado a cumprir até 175 anos de prisão.
Em postagem nas redes sociais na última segunda-feira (28), Lula pediu a libertação do fundador do Wikileaks após reunião com Krsting Hrafnsson, editor-chefe do site, e com Joseph Farrel, embaixador da organização. “Pedi para que enviassem minha solidariedade. Que Assange seja solto de sua injusta prisão”, declarou.
“Precedente perigoso”
Em ato na ABI, na última quarta-feira (30), o editor-chefe do Wikileaks falou que a extradição de Assange, que pode ocorrer nas próximas semanas, significa um precedente perigoso para a democracia, para a liberdade de imprensa e para os direitos humanos.
"Vocês, aqui no Brasil, têm a memória viva dos horrores da ditadura, já viram a censura, a supressão da liberdade de imprensa e viram as consequências disso. A extradição de Assange, que pode acontecer em algumas semanas, coloca muitas coisas em jogo, em risco. A nossa luta é uma luta por todos nós, porque essa extradição abre um precedente que coloca em risco a democracia e países como o Brasil", argumentou Hrafnsson.
Também no Rio, em encontro organizado por Paula Lavigne e Caetano Veloso, a comitiva do Wikileaks explicou a artistas e influenciadores os aspectos políticos do caso de Assange. Caetano afirmou que a situação do jornalista australiano mostra as contradições do posicionamento dos EUA no cenário mundial.
Movimentos populares
Em São Paulo, os jornalistas do Wikileaks conheceram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e o trabalho de formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST). Além disso, também se reuniram com representantes da Assembleia Internacional dos Povos.
"Sem uma forte mobilização internacional, o jornalista Julian Assange não será libertado. Ao publicar no WikiLeaks milhares de documentos, fotos e vídeos que comprovam o envolvimento dos Estados Unidos e seus aliados na morte de inocentes e na espionagem em escala internacional, Assange cumpriu seu dever como jornalista. É por isso que a luta pela sua liberdade afeta a todos nós", declara Giovani del Prete, da Secretaria Operativa da Assembleia Internacional dos Povos.
Políticos brasileiros
Deputados de diferentes bancadas do Congresso Nacional brasileiro assinaram na terça-feira (29) uma carta pedindo ao governo dos Estados Unidos que retira as acusações contra Assange. O documento contou com o apoio de representantes de diferentes partidos, entre eles o PSOL, o PT, o PCdoB e o PV.
“Somamos a nossa voz ao apelo público crescente em toda a sociedade civil, organizações de direitos humanos, grupos de imprensa, classe política, artística e jurídica, que entendem que a perseguição contra o senhor Assange deve ser interrompida imediatamente”, diz a carta.
Ainda em Brasília, Hrafnsson e Farrell foram recebidos por representantes dos grupos de trabalho de Meio Ambiente e de Justiça e Segurança Pública do Governo de Transição. A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, integrante do GT de Meio Ambiente declarou que não há como lutar pela defesa do meio ambiente sem a transparência e a liberdade de informar, fundamentos do WikiLeaks.
“Publicar não é crime"
Ainda na segunda-feira (28), alguns dos principais veículos de imprensa mundiais solicitaram ao governo dos Estados Unidos a anulação do processo. Em documento, os jornais afirmam que a perseguição contra Assange prejudica a liberdade de imprensa.
“Obter e divulgar informações quando necessário para o interesse público é parte essencial do trabalho diário de jornalistas. Doze anos após a publicação de ‘Cablegate’ é hora de o governo dos EUA encerrar o processo.”
Assinam a carta o jornal britânico The Guardian, o estadunidense The New York Times, o espanhol El País, o francês Le Monde e a revista e portal da Alemanha Der Spiegel.
Os cinco veículos publicaram entre 2010 e 2011 reportagens sobre os abusos de militares dos EUA no Iraque, com base no material fornecido pelo Wikileaks.
Próximos passos
No próximo dia 9, haverá um ato a partir das 10 horas em frente ao Consulado Geral dos Estados Unidos, no centro do Rio, pedindo que o país retire as acusações contra Assange como forma de proteger a liberdade de imprensa em todo o mundo. Agora, a comitiva do Wikileaks seguirá para outros países da América Latina.
Edição: Vivian Virissimo