O fundador do grupo de extrema direita Oath Keepers, Stewart Rhodes, e o líder do braço da organização na Flórida, Kelly Meggs, foram condenados nesta terça-feira (29) por conspiração sediciosa na invasão do Capitólio dos Estados Unidos, em janeiro de 2021.
A condenação é extremamente rara e punível com até 20 anos de prisão. A sentença deverá ser conhecida na primavera americana de 2023.
A decisão foi tomada após dois meses de julgamento e três dias de deliberações num tribunal federal em Washington. Os 12 jurados rejeitaram a acusação para outros três membros dos Oath Keepers – Kenneth Harrelson, Jessica Watkins e Thomas Caldwell –, mas os consideraram culpados de obstrução de um processo oficial.
Em 6 de janeiro de 2021, membros dos Oath Keepers atacaram o Congresso americano juntamente com outras centenas de apoiadores do ex-presidente Donald Trump. Incentivados pelo republicano, eles tentavam impedir a certificação da vitória eleitoral do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais.
Mais de 870 pessoas foram detidas, e uma centena, condenadas a penas de prisão. No entanto, até agora, ninguém tinha sido condenado por conspiração sediciosa.
:: Como o ataque ao Capitólio impacta a direita, os movimentos populares e o Brasil ::
A acusação, que remonta a uma lei aprovada após a Guerra de Secessão (1861-1865) para reprimir os últimos rebeldes do sul, envolve ter planejado o uso da força para se opor ao governo e difere da insurreição, que tem um caráter mais espontâneo.
Rhodes estocou armas
Durante o julgamento, os promotores mostraram que Stewart Rhodes começou a reunir suas tropas em novembro de 2020. "Não vamos sair disso sem uma guerra civil", escreveu dois dias após a eleição presidencial em mensagens criptografadas.
Nas semanas que se seguiram, de acordo com os promotores, Rhodes gastou milhares de dólares em dispositivos de visão noturna, armas e munições, armazenando esse estoque em um hotel suburbano de Washington.
No dia do ataque ao Capitólio, munidos de capacetes e equipamentos de combate, entraram no edifício em formação. Rhodes permaneceu do lado de fora, mas de acordo com os procuradores, liderou as tropas com um rádio "como um general no campo de batalha".
O ex-militar de 57 anos, conhecido por utilizar um tapa olho e pelos discursos inflamados, tinha negado no início do mês ter "planejado" o ataque, defendendo que o seu grupo estava presente para garantir a segurança da manifestação convocada por Trump para denunciar "a fraude eleitoral".
Formado em direito pela Universidade de Yale, Rhodes fundou o Oath Keepers em 2009, reunindo ex-soldados e policiais, inicialmente para lutar contra o estado federal, que ele considerava "opressivo". Como outros grupos radicais, a milícia foi seduzida pela retórica de Trump e abraçou plenamente as acusações de fraude eleitoral nunca comprovadas pelo líder republicano.
Os membros do grupo apareceram, muitas vezes fortemente armados, em protestos e eventos políticos nos Estados Unidos, incluindo em manifestações contra o racismo.
Comissão comemora decisão
Edward Tarpley, advogado de Rhodes, disse estar "desapontado" com o veredicto.
"Não houve evidência apresentada indicando que havia um plano para atacar o Capitólio", disse Tarpley a repórteres.
Por outro lado, o veredicto foi aclamado pelo comitê da Câmara que investiga o ataque ao Capitólio.
"As condenações de hoje são uma vitória para o Estado de direito e reforçam o fato de que a violência de 6 de janeiro incluiu uma tentativa deliberada de anular os resultados das eleições de 2020 e bloquear a transferência do poder presidencial", afirmaram em comunicado o presidente do comitê, o democrata Bennie Thompson, e a vice-presidente, a republicana Liz Cheney.