O Grupo de Trabalho sobre Igualdade Racial da equipe de transição de Lula já anunciou que o governo de Jair Bolsonaro (PL) não alocou nenhum recurso para a promoção da igualdade racial no projeto de lei orçamentária de 2023, que encaminhou para o Congresso. Atualmente, essa área é de responsabilidade do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Portanto, uma das prioridades já apontadas será voltar a investir em políticas púbicas transversais que passem por todos os ministérios.
O candidato eleito Lula, durante campanha eleitoral, falou diversas vezes que as políticas voltadas à igualdade racial serão prioridade em seu governo. E, recentemente, em suas redes sociais, no Dia da Consciência Negra, disse que o combate ao racismo é uma luta de todos.
“Ainda hoje, existe um racismo silencioso e cúmplice, que se expressa nas oportunidades negadas à maioria do povo pela cor da pele. O racismo é filho do ódio e da intolerância e desumaniza a todos nós. E por isso é uma luta de todos", escreveu.
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Reconstrução
Para lideranças de movimentos sociais e entidades políticas ouvidas pelo Brasil de Fato Paraná, é urgente a reconstrução e implementação de políticas públicas de promoção à igualdade racial, porque farão com que outras áreas sejam exitosas.
Luiz dos Santos, Secretário de Combate ao Racismo da CUT Paraná, destaca que negros e negras foram mais atingidos pelos retrocessos destes últimos anos. “Nós somos 70% das vítimas de homicídios deste país, as mulheres negras, as principais vítimas de feminicídio, somos a maioria da população desempregada. Acho que estamos saindo de um governo que nos destruiu para um governo que nos apresentou a retomada da esperança”, afirma.
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“Esperamos que, além de serem retomadas as políticas exitosas dos outros governos petistas, que tenhamos avanços para garantir a inserção social do povo negro. Sendo assim, se o governo tiver esse olhar de prioridade, teremos avanços no emprego, na educação, acabar com a miséria, segurança, moradia para a população negra. Se a prioridade será o combate à fome, está diretamente promovendo o povo negro porque as maiores vítimas somos nós”, destaca Luiz.
Combater o preconceito
Índio, liderança das lutas por moradia e coordenador da Ocupação Marielle Franco, em Curitiba, diz que é preciso olhar para as políticas de moradia também sob a ótica da igualdade racial. “80% da população que está nas ocupações ou sem moradia são negros e negras. A população negra é atingida pelo racismo em todas as áreas”, destaca.
“Que a gente possa viver sem que sejamos chamados de vagabundos e bandidos por causa da nossa cor”, esse também é um dos desejos de Índio para os próximos anos. “Que o novo governo possa, com seriedade e firmeza, combater e ensinar que nem todo preto é ladrão e vagabundo como somos chamados. Somos trabalhadores, pais e mães de família. E, sobretudo, cidadãos como qualquer outro, a cor nunca deveria ser vista como sinônimo de caráter”, diz.
Política estratégica
Já para a secretária estadual de Combate ao Racismo do PT do Paraná, Joana Martins, é preciso pensar que orçamento e investimento para a área de promoção à igualdade racial é uma política pública estratégica.
“Devemos enfrentar a realidade que faz a pobreza ter o rosto das mulheres negras, lhes assegurando autonomia. Por isso, é imprescindível a implementação de um amplo conjunto de políticas públicas de promoção da igualdade racial e de combate ao racismo estrutural, indissociáveis do enfrentamento à pobreza, fome e às desigualdades, que sejam garantidas ações afirmativas para a população negra e o seu desenvolvimento integral nas mais diversas áreas", aponta.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini