A atriz, poeta e slammer paulista Luiza Romão foi a grande vencedora do Prêmio Jabuti de 2022, a mais importante premiação da literatura brasileira, cuja 64ª edição aconteceu na noite desta quinta-feira (24) no Teatro Municipal de São Paulo. Eleito livro do ano, Também guardamos pedras aqui (editora Nós) é a terceira publicação de poesia da autora de 30 anos.
Na orelha do livro premiado, a fotógrafa e escritora Adelaide Ivánova, descreve que as pedras de Romão “têm menos a ver menos com as pedras no bolso de Virginia Woolf, e mais a ver com as pedras jogadas pelos palestinos em Sheikh Jarrah: um ato ao mesmo tempo concreto e simbólico, de autodefesa e resistência ao neocolonialismo”.
O romance, categoria mais prestigiada do Jabuti, é dividido em duas subcategorias: o de entretenimento, que abarca obras mais populares e comerciais, e o literário, que tem como um de seus aspectos centrais a própria forma como a história é escrita.
Para esta segunda subcategoria, na qual só mulheres foram finalistas, a vencedora foi a pernambucana Micheliny Verunschk, com O som do rugido da onça (Companhia das Letras). Misturando ficção, memória e antropologia, este que é o quinto romance de Micheliny conta, por meio de uma prosa lírica, a história de duas crianças indígenas raptadas no Brasil do século 19.
O romance de entretenimento premiado foi Olhos de Pixel (Plutão Livros), de Lucas Mota. A narrativa de ação, com uma protagonista feminina, é ambientada em uma Curitiba futurista e cyberpunk.
Reportagem, contos e crônicas
Já na categoria Biografia e Reportagem, Laurentino Gomes ficou em primeiro lugar com o segundo volume da trilogia Escravidão (Globo Livros). Em 2020, ele já havia ganhado o Jabuti com o primeiro volume. O terceiro foi lançado recentemente, no marco do bicentenário da independência do Brasil.
Entre as obras finalistas que disputaram o prêmio com Laurentino Gomes estavam Banzeiro òkòtó: uma viagem à Amazônia Centro do Mundo (Companhia das Letras), de Eliane Brum e Lula: biografia – Volume I (Companhia das Letras), de Fernando Morais.
A estatueta da categoria contos ficou com A vestida (Malê), de Eliana Alves Cruz. Acerca dos temas que perpassam os 15 contos que compõem o livro – antirracismo, feminismo e problemas sociais do Brasil – Cruz declarou ao Notícia Preta serem dois os motivos pelos quais ela se debruça sobre eles.
“Primeiro porque estão na minha trajetória de mulher negra no Brasil, que nasceu na segunda metade do século 20 e está vivendo sua vida adulta no século 21. Não há como despir o meu pertencimento quando escrevo”, afirmou. “Segundo porque são assuntos que tocam profundamente a minha coletividade, ou seja, meus filhos estão profundamente mergulhados neles, meus netos estarão”, apontou Eliana.
Marcelo Moutinho, com A lua na caixa d’água (Malê), que ele dedica a Aldir Blanc, se consagrou na categoria crônica. Já em histórias em quadrinho, a obra premiada foi Escuta, formosa Márcia (Veneta), de Marcelo Quintanilha. O quadrinista conta a história de uma enfermeira, nascida e criada em uma comunidade carioca, e seus desafios para lidar com a insubordinada filha Jaqueline.
Sueli Carneiro foi personalidade homenageada
A filósofa e ativista antirracista Sueli Carneiro, autora de livros como Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil (Selo Negro), foi a personalidade homenageada desta edição do prêmio Jabuti.
“Sueli Carneiro é a justa tradução de autoras e autores que pararam de simplificar o Brasil”, definiu o curador do prêmio, Marcos Marcionilo, durante a cerimônia.
Neste ano houve um aumento de 25% da quantidade de obras que concorreram ao Jabuti, no total dos seus grandes eixos: literatura, não ficção, produção editorial e inovação. Juntando tudo, a disputa envolveu 4.920 livros. Veja aqui o conjunto das publicações premiadas na edição de 2022.
Edição: Rodrigo Durão Coelho