A Prefeitura do Rio reinaugurou nesta terça-feira (22) a estátua de João Cândido, o Almirante Negro, líder do movimento conhecido como Revolta da Chibata. A peça foi revitalizada e reposicionada para ganhar mais visibilidade: deixou a Praça XV, onde ficava atrás da estação do VLT, e passou a ocupar um espaço 300 metros adiante, na Praça Marechal Âncora, de frente para o mar.
"É um compromisso da Prefeitura do Rio fazer esta reparação, ouvir a sociedade civil e dar visibilidade a personagens tão importantes na história da cidade e do país. Fizemos as adaptações do espaço para dar um local de protagonismo para esse herói nacional que foi João Cândido", disse o secretário de Governo e Integridade Pública, Tony Chalita.
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Executado pela Gerência de Monumentos e Chafarizes, da Secretaria de Conservação, a mudança foi feita em duas etapas. Depois de transferido para a Praça Marechal Âncora, o pedestal ganhou revestimento em granito e uma placa informativa. A figura em bronze, em tamanho natural, é assinada pelo artista Valter Brito e passou por limpeza e aplicação de resina protetiva.
A estátua de João Cândido ganhou uma base menor e se transformou em um monumento interativo, onde as pessoas podem se aproximar e tirar fotos ao seu lado. "O Almirante Negro, agora, ocupa um lugar de honra", afirmou a secretária de Conservação, Anna Laura Valente Secco.
A ação é resultado da atuação da Coordenadoria de Promoção à Igualdade Racial (Cepir), órgão ligado à Secretaria de Governo e Integridade Pública (Segovi), e do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro (Comdedine).
A iniciativa faz parte do projeto de revitalização dos monumentos da Praça XV, feito pela Conservação dentro das ações da Prefeitura do Rio para celebrar o Bicentenário da Independência. No local, foram restauradas as estátuas de D. João VI e General Osório, bem como o Chafariz do Mestre Valentim e o Marco à Fotografia.
Sobre João Cândido e a Revolta da Chibata
A Revolta da Chibata foi uma rebelião que aconteceu em novembro de 1910 contra os maus-tratos sofridos pelos marinheiros brasileiros. O movimento queria, principalmente, o fim dos castigos físicos dados a marujos considerados indisciplinados. A punição era aplicada por comandantes brancos em marinheiros que ocupavam postos mais baixos dentro da corporação – grupo formado, em sua maioria, por negros e pobres.
Filho de negros que haviam sido escravizados, João Cândido Felisberto nasceu em 1880 e entrou para a Marinha aos 14 anos. Foi chamado de Almirante Negro após liderar o primeiro levante da Revolta da Chibata, que tomou o encouraçado Minas Gerais, uma das embarcações militares atracadas na Baía de Guanabara.
Os revoltosos afirmavam que, caso as autoridades não decretassem o fim dos castigos físicos, a cidade do Rio de Janeiro seria bombardeada. O governo brasileiro aceitou as condições dos marinheiros e prometeu-lhes anistia, desde que a rebelião acabasse.
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Entretanto, dias depois do fim da revolta, os rebeldes começaram a ser perseguidos. João Cândido foi preso, chegou a ficar internado em um hospício e acabou expulso das Forças Armadas. Demitido de vários empregos por pressão de oficiais da Marinha, terminou seus dias como pescador e vendedor de peixes.
Filho do Almirante Negro, Adalberto Cândido, mais conhecido como Seu Candinho, estava emocionado com a homenagem. Aos 84 anos, ele lembrou dos tempos difíceis passados por seu pai.
"A estátua ficou escondida depois que foi construído o terminal do VLT na Praça XV. O pessoal em situação de rua tirou até a placa de identificação do monumento. Mas agora está num espaço mais bem localizado. O meu pai foi muito perseguido pela Marinha e agora esse reconhecimento deixa a todos nós, da família, muito orgulhosos", comentou Seu Candinho.
A música “O mestre-sala dos mares”, de Aldir Blanc e João Bosco, faz homenagem à figura de João Cândido.
Edição: Eduardo Miranda